Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 6 de dezembro de 2009

DESAPAIXONAR

Passada a euforia
Dos primeiros encontros;
O encantamento dos primeiros beijos;
O tesão das primeiras transas,
O que resta?

Era amor de fato,
Ou apenas uma paixão forte e funesta,
Que arrebatou dois corpos,
Sem entrelaçarem suas almas?

A paixão é dual,
Filha legitima do mestre Universo.
Atom do Romantismo,
Chama nas camas de motel.

É bela,leve e pura
Nos ingênuos romances juvenis,
Sem nunca deixar de ser pútrida,
Voluptuosa e maliciosa.

Sua poesia é existente apenas
Na própria poesia.
É humana e sensível em demasia
Para ser cantada como ideal.

A paixão arde,
Queima e dói;
Doem as entranhas e o coração.
É como o álcool na ferida,
Dolorosamente prazeroso.

É teleguiada por hormônios,
Impulsos nervosos;
É longa e rápida,
Para se transformar em angustia,
Em mais dor...

Desapaixonar é mais belo,
É de tal sossego e plenitude,
Que a felicidade de estar vazio
É a mais doce das bebidas.

Venerável é o desapaixonar,
Quando acompanhado da
Construção de um amor incondicional.