Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sentir-se amado (por Martha Medeiros)

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama. Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado. Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se. A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também? Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho". Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato." Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta. Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo

Das analises da Maranata

Seria este lugar real?
Seriam essas pessoas
Compostas de carne e osso como nós?

Lugar simples,
Singelo e acolhedor.
De singular ternura
E encoberta lavagem cerebral.

Espécie de universo paralelo religioso,
Onde a religião
Não se auto-intitula como tal,
Mas exerce um incomum domínio.

Pessoas que se presumem
Como detentoras do conhecimento divino,
Somente entre elas partilhado.
Esse conhecimento não é exclusivo,
É difundido nas mais diversas religiões.
Ingenuidade da parte deles, ou presunção?

A harmonia é visível,
Há a fraternidade despojada
Da comercialização da fé
Visualizada em outros templos.

Tal harmonia apenas se mantém,
Caso se siga cega e radicalmente
Os escritos de um livro,
Cujo entendimento só se faz
Com a interpretação metafórica.

E a matriarca das leis cegas e radicais
É a submissão incondicional da mulher.
São proibidas as calças e decotes,
A valorização da perfeição do corpo feminino
É encoberta e plenamente desencorajada
Pelas longas saias e vestidos.

É divino movimentar toda uma vida
Em prol da busca da salvação na eternidade,
Contudo,
Não esqueçamos da vida na Terra.
E um medo emerge em meu ser:
Que as mulheres não retrocedam
A um estagio de servas de seus varões,
Uma vez que o movimento feminista tanto conseguiu!