Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 13 de março de 2011

"De repente, não mais que de repente" de Juliana Couto

Para Ana Paula, minha companheira de absurdos, delírios, desilusões e confissões.

Duas meninas, a princípio tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes, se apaixonam tanto quanto qualquer jovem. Repetidas vezes se apaixonaram e repetidas vezes acabaram destroçadas, mas o gosto pela vida e a esperança de um jovem são inabaláveis.
O tempo passa. E como passa.
Duas pessoas se conhecem, em meio a uma multidão desconhecida, e se reconhecem. Duas mulheres, duas almas, dois seres perdidos, dois corações partidos [quem sabe] para sempre.
Essas duas mulheres, Paula e Julia, encontram uma na outra um porto seguro, sempre há um porto. Enquanto Julia desistia de tentar ser feliz, Paula insistia na vã crença na felicidade, ainda que efêmera, entregando-se a qualquer um que lhe oferecesse carinho, atenção e uma boa aventura.
Uma era o extremo da outra: Paula, excessiva, quente, calorosa, carente; Julia, vazia, fria e auto-suficiente – sobre este último, pelo menos era o que ela achava, ou queria se fazer acreditar, mas isso ela jamais admitiria.
Paula, a cada homem com quem se encontrava, depositava naquele momento todas as fichas de felicidade que havia conseguido entre sonhos e conquistas e nada mais. Por vezes o investimento dava lucro durante alguns dias, ou meses. Afinal, pensava ela, para quê amar para sempre se podia amar eterna e intensamente só por aquele instante?
Julia, por sua vez, repelia cada homem que tentava se aproximar dela. “Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom”, dizia toda vez que um homem tentava tirar-lhe de sua solidão auto-infligida. Medo de se machucar? Não, já havia sido machucada tanto quanto podia aguentar. Era mais uma tentativa desesperada de não se apegar; aliás, tentativa, não, ela já não se apegava mais. Depois de certo indivíduo num passado não tão longínquo quanto ela gostaria, amar havia se tornado um verbo inconjugável, e amor, um substantivo mais que abstrato.
Apesar de tudo e todos, as duas se divertiam. Saíam, riam, bebiam, comiam, avaliavam e confabulavam. A vida havia perdido o gosto que teve outrora, mas não deixava de ter seu brilho. Mais que mulheres de Chico, eram amantes de Caio Fernando Abreu, Vinicius, Drummond e Freud. Partilhavam da amargura de Florbela Espanca, da acidez triste e imediatista de Clarice e compactuavam com as ideologias de abandono e entrega de Cecília Meireles.
“Talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor”, pensava Julia. Ora, férias ela acabara de ter – e haviam sido maravilhosas. Um porre seria essencial. Só assim ela conseguiria chorar tudo aquilo que, sóbria, sequer sonhava em chorar; havia desaprendido, entre tantas outras coisas, a chorar. Esse porre deveria ser solitário, no escuro, no silêncio – apenas ela e seus próprios demônios. E o novo amor? Ah, o novo amor...
Paula encontrava um novo amor todo dia, sem nunca deixar de amar aquele, um dia, partiu seu coração de todas as formas que se pode imaginar e, no entanto, foi o único que pôde salvá-la de si mesma inúmeras vezes.
Sobretudo, precisavam de um porre conjunto, em um lugar qualquer, em lugar algum, para que encontrassem o tal novo amor. Aquele amor que não dura mais que uma noite e que, depois de várias garrafas e declarações clichês de amor eterno, tinha como única consequência a ressaca.
“Amores serão sempre amáveis” era o que pensava Paula. Depois de não ter mais lágrimas para chorar, restavam interrogações. E, mais que isso, restava uma vida toda pela frente.
E, se um dia houvesse alguma chance de fazerem as pazes com a felicidade, jurariam emoldurá-la e guardá-la num pano de guardar confetes. No mais, estavam indo embora.


Homenagem da minha vaca mais querida.

Resenha de A dama das Camélias

A dama das camélias é uma obra de Alexandre Dumas (filho) datada de 1848 (nesse ano estão emergindo revoluções burguesas por todo mundo, até aqui no Brasil. Esta obra serviu de inspiração para José de Alencar escrever sua obra Lucíola, e há até uma referencia direta a A dama das Camélias.
A dama das camélias é um romance situado na Paris do século XIX, retratando a história de amor entre Armand Duval e sua amada Marguerit Gautier, uma cortesã.
A obra é narrada como se fosse uma leitura dos diários que Armand escreveu durante sua estada com Marguerite.
A vida de devassidão e glamou das cortesãs e dos aristocratas parisienses do século XIX são retradas, bem como há uma descrição dos costumes da época. O ciúme também é marcante nesta obra, principalmente o de Armand ao presenciar os encontros de Marguerite com seus clientes. Por vezes ele pede a ela que largue a atividade de cortesã, mas ai entre outro tema marcante, o do dinheiro. Marguerite estava na "vida" por falta de recursos, mas na "vida" enriqueceu e apresentava muitas vezes um padrão de vida acima de suas posses e que Armand não poderia manter.
Há belas partes em que Marguerite apresenta-se muito além da superficialidade da cortesã, refletindo sobre a alma e o corpo. Há de se destacar também o preconceito sofrido pelas cortesãs e pelos rapazes que as tomavam como companheiras, como no caso de Armand.
O amor de Armand e Marguerite é findado devido a doença de Marguerite que a persegue durante toda a obra, fato que vai minando as forças de Armand.
Um clássico da literatura repleto de criticas e reflexões acerca da sociedade da época, no qual transbordavam preconceitos e exploração de diversos direitos .