Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 7 de março de 2010

CORAÇÃO, PELE E DOIS RAPAZES

Meu coração é demasiado grande;
Não há muitas pessoas ou coisas,
Mas bastante espaço para cada uma.
Todavia, ele anda indeciso,
Num conflito tenso demais.

Estava acostumada
A determinado colo,
Determinados abraços,
Determinados beijos.
Mas estes se foram,
E o que resta é a lembrança;
Doces, ternas e quentes lembranças.

Mesmo que o tempo passe,
Que a distância se faça,
Meu coração ainda pulsa
Pelo dono dos abraços e beijos de outrora.
De alguma forma,
Meu coração ainda é dele.

Não há como ser apagado;
Ele foi meu super-herói,
Foi quem me acalentou no desespero,
Que me refugiou quando estava acuada.
Quem me fez derramar inúmeras lagrimas,
Mas que também secou outras tantas.
Alguém que me protegeu de mim.

Agora há maremotos em meu peito,
Borboletas no estomago.
Deveras, tenho medo do que vá suceder;
O entusiasmo é grande demais,
Os hormônios ativos em excesso.

Certo moço,
Com certa ginga,
Uma voz cadenciada
Com sonhos de menino perdido.
Um Pequeno Príncipe,
Um Peter Pan,
Bateu a porta do meu regaço.

Remexeu todo o meio interno,
Virou ao avesso minhas entranhas.
Desfez as antigas certezas,
Refez incertezas.
Trouxe esperanças retirando-as.

Eis que nasce um dilema hiperbólico,
Aparentemente irresoluto:
No peito o coração bate por um,
Mas o corpo não o necessita,
Na verdade necessita da insustentável leveza do ser
Daquele certo rapaz.

ESTOU PERDIDA

Estou perdida
Por não saber onde estar,
Não saber com quem ficar,
Não ter certeza se devo sonhar,
Ou ainda amar.

Estou perdida
Pois no cassino da vida
Apostei todas as minhas fichas.

Viajei milhas e milhas
Apenas para jogar,
Mas acabei por perder,
E nada mais me resta para voltar para casa.

Na verdade nem sei se tenho casa.
Ela pode ser um abrigo,
Uma cabana,
Uma rede,
Ou até algum colo.

Mas até em colos me perdi...
Perdi o que julgava valioso,
Que realmente não valia nada,
Apenas valia para me atormentar.

Estou perdida
Por ser incapaz de me encontrar,
Mesmo que redundante e obvio seja.

Também não desejo me encontrar...
Quem sabe algum dia,
Alguém me encontre,
E me tire da vida da eterna perdição.

EU VOU EMBORA

Eu vou embora,
Não de casa,
Nem da escola,
Menos da vida.

Vou embora de mim;
Vou fazer as malas da consciência
E dar adeus aos sonhos de outrora.

Vou embora do eu,
Do Superego que domina,
Que restringe meus instintos e impulsos.

Vou embora
Por não aguentar mais a mim mesma,
Não aguentar meu coração,
Minha alma.

Ambos são tão profundos,
Intensos demais para serem humanos,
Frágeis e limitados
Para tanto amor,
Tantas dúvidas e incoerências.

Vou embora de mim
Por estar cansada de amar;
Cansada de chorar por amor.
Sejam tais lágrimas de alegria ou de dor.