Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Indignação

Onde estão as pessoas?
Onde está a fé?
Onde está a voz?
Aquela voz que a pouco
Ressoava pelos quatro cantos
A exigir, a lutar.

Onde está a garra?
Onde está a coragem?
Onde está a juventude?
A juventude ,que não faz muito,
Lutava por seus ideais,
Mergulhava fundo na política
Exigindo o respeito por seus direitos,
Exigindo liberdade.

De que adianta
Vivermos hoje numa sociedade livre,
Fruto do protesto,da luta,
Do aniquilamento
De muitos no passado,
Se a consciência política do jovens
Esvai-se a cada dia.

A liberdade que muitos lutaram
E não conseguiram desfrutar,
Hoje é usada por aqueles
Que reprimiram,que mataram e matam.

E o capitalismo lança seus tentáculos
Sobre essa geração alienada,
Descrente da política,das pessoas, do mundo.
Satisfaz-se em consumir,
Em pensar apenas em si
Sem se preocupar em buscar
Um lugar melhor para seus filhos e netos.

Da janela

Da janela eu vejo o dia,
Vejo o meu amor passar gingando,
Mexendo,
Me chamando.

Mas eu não posso ir
Com o meu amor,
Pois ainda é cedo e,
Da janela eu tenho que ver o dia.

Na janela fiquei
E meu amor se foi.
Não sei se vai voltar,
Não sei se vai me amar.

Da janela eu vejo homens,
Mas não é o meu amor.
Meu amor partiu
E me desolou.

E agorana janela que estou
Bate um vento forte,
Que vai levando para o sempre
Os cacos do nosso findo amor.

7 Pecados

A leve brisa paralisante
Toca os cabelos do compositor,
Que da sua imóvel rede
Obtém do ócio a gota refinada
Da poesia da preguiça.

Batons e brincos,
Pulseira é rímeis
Pela cama espalhados
Num mar de futilidade,
Nadam entre as ondas da vaidade.

O que tem não quer,
Quer o que não tem.
Quer os bens,os amores
A vida de quem se julga melhor.
Nada consegue por si,
Que o dos outros,
Parasitária inveja.

Tanto tem
Nada dá.
Tudo para si,
Sem a mínima intenção de compartilhar.
Vai morrer sufocado em si mesmo,
Coração avarento.

Aos olhos enche,
À boca tranborda água.
Não se sacia com um pouco,
Quer sempre o excesso.
Vai morrer pela boca
Da venenosa gula.

Vira mesa,
Vira o jogo,
Joga-se tudo pelo ar.
De que adianta ser manso,
Se nas veias o que pulsa
É um sangue corroído pela ira.

Doce fel do prazer,
Infesta os corações e corpos
Dos pobres mortais,
Que se consomem
Nas fantasias quentes da luxúria.

Índio

Das selvagem matas
O guerreiro índio,
Nu em pelo,
Avança pelos sertões
Explorando terras,
Deflorando virgens,
Tirando sangue.

O jovem guerreiro
Desde a terna idade
Foi ensinado a ser forte,
Astuto,cruel.
Ensinado a não ter pena,
Pois seus inimigos
Não serão misericordiosos.

Mas está fatigado.
Essa vida de guerreiro
Não lhe dá mais prazer.
Matar,sangrar
Não faz mais sentido.

Ele quer uma mulher
A quem posso beijar,
Amar,possuir.
Uma mulher sua e somente sua,
Não mais a mulher alheia.
Não uma índia,
Essas sabem quem ele é.
Ele quer um branca,
Ou talvez uma nêga.
Que lhe dê carinho,amor
E um pouquinho de tesão.

Então o guerriro foge da aldeia,
Vai para a cidade,
Vira homem sério,
Do tipo homem branco,
Sem deixar de ser índio.
E arruma um preta que lhe faz cafuné,
E que nas noites de lua cheia
Faz festa na sua cama.

O passageiro

Adorável passageiro,
Transeunte de minha mente,
Viajante do destino,
Andarilho dos meus sonhos.

Percorre os corredores de minh'alma
Deixando em cada estação
Seu doce perfume,seu encanto,
Seu coração.

Estacionou em minha vida
Após inúmeras viajens frustadas,
No momento em que eu ansiava por um porto seguro.

Passeou por mim como quem passeia
Por um jardim florido,
Por uma prai num dia de sol.

Desfilou pro meus problemas,
Sendo a maioria das vezes
A causa e a própria solução.

Foi terminal de chegada
Da minha felicidade,
E o de partida
Da minha saudade.

E hoje me deparo nesta plataforma,
Onde vejo você embarcar
Numa viajem sem volta pra minha vida...

Anjo

Meu anjo adormecido
Tua face replandescente
Passeia pelas minhas ilusões,
Enchendo de magia os meus sonhos.

Fizeste história em meu passado.
Só Deus sabe o que há de ser em meu futuro.
Mas,hoje,sei que és minha dádiva,
Meu presente.

Andaste por todos os dias ao meu lado,
Carregando-me pela mão.
Como um verdadeiro anjo a guiar meus passos
És meu protetor.

Não és glorioso,nem majestoso,
Muito menos divino.
És de carne,és de osso.
És de alma,és de sangue.
Humano.

Se não és divino,
Então profano és.
Anjo do meu carnaval
Abre as alas do meu coração.

Não habitas a morada celestial,
Encontra um porto seguro em meus braços,
Onde placidamente descança
Livre de qualquer ameaça,
Por saber que comigo estás.

Noite de luar

Caminho sob a luz da Lua
Indecisa por onde seguir,
Perdida em meus descaminhos,
Tento te encontrar.

És tão vil e cruel
Arrebata-me,destrói-me,
Meu sangue pulsa por ti
E tu o bebe e se delicia.

Me entrego a tal êxtase
Como Santa Tereza ao
Anjo incandescente.

Seu hálito quente e doce
Sussurra em meus ouvidos
Palavras flamejantes
Que como chamas,
Consomem -me por dentro.

Sinto minh'alma deixar o corpo
E ir de encontro à tua.
Meu sangue se esvai em minhas veias,
E tu sorri-me com tal prazer
Vendo minha agonia.

Não sei porquê me deixei levar,
Mas não consigo me arrepender,
Pois tu,vampiro insano,
Proporcionou-me imenso prazer

E no vazio são as máquinas

Às vezes tudo parece tão inútil,
Dispendioso e banal.
Constantes lutas são travadas
Por nada,culminando no mesmo nada.

E neste jogo
Perdem-se dinheiro,vidas,
Amigos e amores.
Transformaram-se em coisas frívolas,
Desprovidas do calor do sentido.

Enontra-se aquele vazio opressor
Em todas as partes.
Aquele aperto no peito,
Desesperado por um alento,
Impulsionando novamente ao nada.

Veem-se homens,mulheres...
Veem-se crianças brincando despreocupadas.
Todos sofrem em seus sonhos calados,
São angústias sufocadas pelo
Desprazer da aparente felicidade.

Vive-se perdido em livro infinitos,
Aprisionados em infindáveis páginas
Da Tragiomédia do Criador
Pervertida pela compulsão doentia do homem.

A indecisão é constante,
Até naqueles que julgam-se decididos.
É um movimento orgânico
Da condição humana.

O coração é um grande imbecil,
Irracional,sentimentalóide barato!
Persiste nas coisas mais absurdas,
Mais crucificantes e desnecessárias.

É com tamanho pesar,
Que deve-se afastar
Das coisas que se ama,
Que,de alguma maneira,merecem
Ser protegidas ,
Para que a clareza de pensamento
Retorne a fluir.

Homens não são máquinas.
Organismos não são engrenagens.
Pode existir um tremendo vazio,
Mas a vida não é frígida o bastante
Para ser mecanicista.

Minha fortaleza de argila

Homens devem ter o físico forte,
Mulheres devem ter o espírito forte,
O ser humano deve ser forte
Para enfrentar as intempéries da existencia.

Desde a terna idade
Disseram-me:
-Pare de chorar,assim você não resolve nada.
Definitivamente não.
Mas é carente em mim, a força.
As lágrimas sempre são mais fortes,
Sempre vencem a guerra contra os olhos.

Quando não tinha a evolução de hoje,
Poderia até dizer que era forte;
Mas,às vezes,parece que conforme se cresce,
Mais vulnerável e fraco se fica.

Nm sempre a vida vai lhe sorrir com a sorte.
-e o que resta?
Ser forte...ser sempre forte.

Uma fortaleza é sempre fria,
Por mais que em seu entorno
Existam tochas de fogo.
Elas são construídas de pederas fortes,
Que resistem a investida do tempo,
Do vento,das águas.

As minhas pedras são de argila,
Delicadas e frágeis.
Ao menor toque despencam;
A menor investida da chuva desfazem -se.

Ao fim de cada tribulação
Tenho sempre o mesmo fim,
O mar...salgado mar...
Que frequentemente costumo me afogar....