Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

segunda-feira, 19 de julho de 2010

LINDO A LUZ DA LUA

Houve noites em que o frio reinava,
Outras em que a rainha era a solidão,
E ainda outras, onde tudo estava molhado.

Esta noite foi de chuva.
Uma chuva desprovida de qualquer melancolia,
Era até fria, mas tudo conspirava ao quente.

Foram tantas as vozes ouvidas;
Tantos os risos.
Contudo, apenas uma voz era esperada,
Um único e especial hálito.

Deixemos a hipocrisia de lado.
Nada era esperado.
A espera já havia fatigado,
Então, larguemos mão do álcool,
Ele esquenta e faz esquecer.

Viva o brilhantismo do inesperado,
Que sempre traz as maravilhas
De forma repentina e majestosa!

Bem, viestes.
Apareceste sob a luz do luar.
E que bela visão
Ver-te banhado pela chuva e pela lua!

Não espero que saibas,
Mas a escuridão me amedronta,
Nela meus demônios
Insistem em me enlouquecer.
Mas fizeste do breu desta noite,
O véu da luxuria mais funesta.

A luz da lua cobrindo-te,
Tua sombra refletida na parede,
Inundando meus olhos, minha mente,
Despertando tão impar sentimento.

Tão lindo erguido,
Firme em toda sua fúria,
Sob a luz da lua e,
Pronto para me inundar.

Tão lindo a luz da lua,
Que jamais desejo esquecer,
Mesmo que não seja
Concedido o prazer de possuir-te
Por mais uma noite.

ETÉREA LADY- Para Beatriz Batemarco

Venha ao meu encontro com teu ar primaveril,
Com aquele sorriso irônico e sincero,
E me diga com aquele jeito meigo e único,
Que não é bem assim.

Toda vez que a merda vem me buscar,
Tu me dizes que não é o certo,
Que o desespero estar a me consumir,
Que sou desesperado demais.

És tão centrada,
Tão certa em tuas incertezas,
Que julgo seres a voz que em mim fala
Pela voz de outrem.

Do mesmo modo que chegas a mim
Leve, fresca e etérea,
Esvaeces como a aurora ao raiar do dia.

E que dor que me causas!
Quando creio que estou chegando a ti,
Descobrindo a ti,
Somes como a fumaça após o tragar,
Deixando o incomodo causado pelo mesmo, com teu desaparecimento.

Faze-me ser racional
E equilibrar meu equilíbrio razão-emoção;
Mas como saber a quantas anda o teu.
Não sei se choras, mas sei que ri;
Não sei se és triste, mas percebo a alegria em teu olhar,
Não sei se te preocupas, mas te vejo sempre calma.

Peço-te um ínfimo favor;
Antes que tornes a evaporar
Conceda-me o vislumbre de teu coração.

domingo, 11 de julho de 2010

SACRIFÍCIO

Afia tua faca;
Crave-a em meu peito,
E não tenhas dó!
Não reserves nem um fiapo, ao menos, de piedade.

Vá dilacere-me,
Tens a oportunidade em tuas mãos,
Sabes o que deves fazer.
Não hesites, vá até o fim.

É inútil dissimular.
Sempre fizestes tantas atrocidades;
Sempre fostes um animal, um monstro.
Então faças o que te peço.

Cinja-me com tua chibata,
Coberta do ostracismo dos tempos
Em que foste escravo do desprezível.
Seja desprezível.

Lave-me com teu sangue,
Para que meu sacrifício seja viável.
Um sacrifício pérfido e doce,
Com o pleno consentimento do sacrificado.

Abuses de meu complexo de Estocolmo;
Não receies que o sacrificado
Irá vingar-se de seu carrasco.
O sacrificado nutre um amor incondicional por ti.

Leve-me ao alto do monte,
Em meio ao recanto no qual jazem os mortos,
Onde a vida brinda a seu gran final,
Possua-me com toda tua força;
Violente-me repleto da mais sanguinolenta
Perfídia e virilidade do desejo.

Entregues-te ao me possuir.
Invada todos os meus poros,
Fundes teu corpo ao meu,
Para então rasgar minh’alma
E findar o que há muito
Jaz findo.

E a noite tu me tiraste o sono

Sinto-me triste e abatida;
As memórias insistem
Em ressurgir em minha mente
Tirando-me o sono.

É inútil, pois, tentar
Buscar refúgio no sono.
É como o morcego que persegue
E tira a paz.

Tentei, em vão chorar,
Para ficar, talvez, exaurida,
Ainda mais fraca do que já estou,
E despencar... e esquecer.
Ilusão... as lágrimas não ousam dar o ar da graça.

O desespero aperta o peito;
A angústia assola e,
Infelizmente não há nada a se fazer.

A presença da dor,
Faze-me perceber
Que não és o maior dos problemas.
Estás vivendo tua vida,
Executando sua felicidade.
Eu cria que fosse tal coisa
A causa em si do meu sofrimento.

É a perspectiva
De possuir a felicidade usurpada e,
Não poder fazer nada para impedir;
É uma infelicidade patogênica,
Que me arrebata mesmo sem querer.

Clamo a Deus,
Que tudo isto se finde.
Não peço mais que voltes para mim,
Mas que me liberte
E recobre a felicidade e
A capacidade de amar outra vez.