Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Estrada da Noite

Quando da estrada da noite
Seus pés não conseguem
Manter suas pernas,
E cair em um chão de estrelas é a única direção,
O que virá são sonhos de outrora.

Sonhos apagados
Pelo rumor do transcorrer de dias e noites,
Sem o findar da incômoda luz do sol
A queimar-lhe os olhos.

A priori, tudo parecerá absurdo,
Enlouquecedor,
E sua maior vontade será gritar e fugir;
Mas não há como fugir,
Seus pés não o sustentam.

Quanto a gritar é inútil,
Infelizmente você está sozinho.
Todos os seus amigos,
Todos os que lhe queriam bem
Morreram por suas mãos;
Por buscarem alertar em demasia,
E você, simplesmente, recusava-se a ouvir.

Ficarás preso e inerte,
Refém de sua consciência,
Com o sangue de tantas mortes
Nas mãos que não são suas.

Implorará por um perdão que não virá;
Deus pode lhe ouvir,
Mas apesar de onipotente não poderá fazer nada,
Ele lhe deu o livre-arbítrio,
E o caminho errado foi sua escolha.

Mais cedo ou mais tarde,
Quando toda a vã esperança
For dizimada pela agonia,
Algum automóvel parará no acostamento desta estrada,
Abrir-lhe-á a porta,
Oferecer-lhe-á o álcool necessário
A queimar e expurgar-lhe infinitamente.

Arte Milenar

Arte milenar;
Tão antiga quanto a vida,
Amplamente difundida entre os mortais,
Sem o disparate de acepções.

Como majestosa arte,
É sutil,
Sem,jamais, abandonar a fúria,
Já que a fúria emana de todos os poros,
E inunda, arrebata...

É de voraz simplicidade,
E singela complexidade.
Não exige muito,
Beneficiando em demasia,
O corpo, a alma, o ego.

Os tempos a enriquece,
Engrandece seus desígnios.
No inicio era a sobrevivência,
Com o girar do caleidoscópio das Eras
É também fonte de prazer.

O velho livro indiano
Concedeu o caminho
Da multiplicação dos prazeres,
Com as técnicas das Arábias,
Resistentes e vitoriosas ao longo dos séculos.

Já foi rainha,
Ponto chave de rituais de sociedades secretas.
Já foi denominada como arte que dá a vida,
Hoje foi destronada,
Perdendo sua majestade,
É puramente banal.

Como diria o Poeta
O prazer que ela traz agora
Traz também o risco de vida.
Faze-se necessária a utilização
De atributos protetores e incômodos.

É fato que jamais será uma arte morta,
Mas que não seja uma rainha destronada,
Destinada a vagar pelas sarjetas da vida
Banhada apenas pela euforia alcoólica.

Não tente entender

A vida não é tão triste,
Bem que poderia ser.
Seria, portanto, um vale de lagrimas,
Na qual navegaríamos sem cessar,
Sem jamais encontrar o alento da terra firme.

Isto se a terra realmente conferisse segurança,
E por ser um vale,
A terra pode desabar,
E seus escombros caírem por nossas cabeças,
Como muitos dos anos vazios que vivemos.

E como saber que aqueles e não estes
Foram os anos vazios?

Todos os anos estão a quebrar em cima de nós,
Junto da terra desabada e da água que nos afoga,
E a cada instante se torna mais fácil sucumbir,
É menos doloso, doloroso.

Submergir é doce perto de nadar, correr ou fugir.
É apenas fechar os olhos,
Prender a respiração e afundar lenta e desesperadamente,
Lutando contra a vontade de reagir,
Que insiste em se fazer presente.

Não adianta.
Outrora já repudiávamos a esperança,
Que já era vã nos tempos áureos.
Hoje quando o negro tudo consome
Apunhalamo-la...
Atropelando e matando as belas coisas da vida
Que poderiam vingar e florir caso
Não as destruíssemos ao primeiro suspiro.

Quero fugir

Eu vivi anos a fio em um sonho.
Não sabia que era um sonho,
Nunca havia me dado conta
Que fatos perfeitos demais
Simplesmente não existem.

Eu acreditava que não havia
Nada melhor do que aquilo;
E que o mal também nunca me alcançaria.

Tiveste que ir...
Eu clamei para não ires,
Que permanecesses a meu lado.
Não precisavas dizer ou fazer coisa alguma.
Só desejava a presença.

Então, o caleidoscópio do destino
Dançou e me trouxe à realidade.
E como esta é cruel...

Por vezes apresenta-se doce,
Não que seja mentira,
Mas o doce é recoberto pela esperança;
E esta, tão falsa amiga,
Engana-nos e consome.

Quero, pois, partir.
Fugir...
Tomar a longa estrada
Que se levanta sobre meus olhos.

Não é mais possível acreditar
Em algo que esmorece e desaparece,
Deixando o vazio no peito,
Como se algo de fato tivesse existido.

A tarde cai como um viaduto

Enquanto a tarde caia como um viaduto,
Os carros seguiam seus rumos,
E os namorados fundiam-se,
As lágrimas rolavam.

A velha dama do cabaré
Já não possuía o prestígio de outrora,
Paulatinamente ia apagando-se,
Como a estrela que desfalece ao nascer do dia.

Enquanto penteava seus rubros cabelos
A beira da janela,
Mergulhava tão fundo
Que não sabia se seria possível retornar a superfície.

Perdera tanto tempo
Preocupando-se com o como e o onde,
Esquecendo completamente do com quem.

Era tudo tão fugaz,
Tão efêmero e frágil
Até para os fios brancos da memória.

Não há a recordação de rostos,
Pobres rostos sem identidade,
Que por ela passaram,
Dando um pouco de si
Para partirem de mãos vazias.

Estava ela vazia também?
Certamente.
De que adiantou entregar tudo a cada momento,
Se ao final de instantes tudo se acabava,
E nada restava para um daqui a pouco,
Quizá um amanhã.

E hoje chora mil rios,
Cheia como nunca
Esteve tão só e vazia,
Enquanto a tarde cai como um viaduto.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

LINDO A LUZ DA LUA

Houve noites em que o frio reinava,
Outras em que a rainha era a solidão,
E ainda outras, onde tudo estava molhado.

Esta noite foi de chuva.
Uma chuva desprovida de qualquer melancolia,
Era até fria, mas tudo conspirava ao quente.

Foram tantas as vozes ouvidas;
Tantos os risos.
Contudo, apenas uma voz era esperada,
Um único e especial hálito.

Deixemos a hipocrisia de lado.
Nada era esperado.
A espera já havia fatigado,
Então, larguemos mão do álcool,
Ele esquenta e faz esquecer.

Viva o brilhantismo do inesperado,
Que sempre traz as maravilhas
De forma repentina e majestosa!

Bem, viestes.
Apareceste sob a luz do luar.
E que bela visão
Ver-te banhado pela chuva e pela lua!

Não espero que saibas,
Mas a escuridão me amedronta,
Nela meus demônios
Insistem em me enlouquecer.
Mas fizeste do breu desta noite,
O véu da luxuria mais funesta.

A luz da lua cobrindo-te,
Tua sombra refletida na parede,
Inundando meus olhos, minha mente,
Despertando tão impar sentimento.

Tão lindo erguido,
Firme em toda sua fúria,
Sob a luz da lua e,
Pronto para me inundar.

Tão lindo a luz da lua,
Que jamais desejo esquecer,
Mesmo que não seja
Concedido o prazer de possuir-te
Por mais uma noite.

ETÉREA LADY- Para Beatriz Batemarco

Venha ao meu encontro com teu ar primaveril,
Com aquele sorriso irônico e sincero,
E me diga com aquele jeito meigo e único,
Que não é bem assim.

Toda vez que a merda vem me buscar,
Tu me dizes que não é o certo,
Que o desespero estar a me consumir,
Que sou desesperado demais.

És tão centrada,
Tão certa em tuas incertezas,
Que julgo seres a voz que em mim fala
Pela voz de outrem.

Do mesmo modo que chegas a mim
Leve, fresca e etérea,
Esvaeces como a aurora ao raiar do dia.

E que dor que me causas!
Quando creio que estou chegando a ti,
Descobrindo a ti,
Somes como a fumaça após o tragar,
Deixando o incomodo causado pelo mesmo, com teu desaparecimento.

Faze-me ser racional
E equilibrar meu equilíbrio razão-emoção;
Mas como saber a quantas anda o teu.
Não sei se choras, mas sei que ri;
Não sei se és triste, mas percebo a alegria em teu olhar,
Não sei se te preocupas, mas te vejo sempre calma.

Peço-te um ínfimo favor;
Antes que tornes a evaporar
Conceda-me o vislumbre de teu coração.

domingo, 11 de julho de 2010

SACRIFÍCIO

Afia tua faca;
Crave-a em meu peito,
E não tenhas dó!
Não reserves nem um fiapo, ao menos, de piedade.

Vá dilacere-me,
Tens a oportunidade em tuas mãos,
Sabes o que deves fazer.
Não hesites, vá até o fim.

É inútil dissimular.
Sempre fizestes tantas atrocidades;
Sempre fostes um animal, um monstro.
Então faças o que te peço.

Cinja-me com tua chibata,
Coberta do ostracismo dos tempos
Em que foste escravo do desprezível.
Seja desprezível.

Lave-me com teu sangue,
Para que meu sacrifício seja viável.
Um sacrifício pérfido e doce,
Com o pleno consentimento do sacrificado.

Abuses de meu complexo de Estocolmo;
Não receies que o sacrificado
Irá vingar-se de seu carrasco.
O sacrificado nutre um amor incondicional por ti.

Leve-me ao alto do monte,
Em meio ao recanto no qual jazem os mortos,
Onde a vida brinda a seu gran final,
Possua-me com toda tua força;
Violente-me repleto da mais sanguinolenta
Perfídia e virilidade do desejo.

Entregues-te ao me possuir.
Invada todos os meus poros,
Fundes teu corpo ao meu,
Para então rasgar minh’alma
E findar o que há muito
Jaz findo.

E a noite tu me tiraste o sono

Sinto-me triste e abatida;
As memórias insistem
Em ressurgir em minha mente
Tirando-me o sono.

É inútil, pois, tentar
Buscar refúgio no sono.
É como o morcego que persegue
E tira a paz.

Tentei, em vão chorar,
Para ficar, talvez, exaurida,
Ainda mais fraca do que já estou,
E despencar... e esquecer.
Ilusão... as lágrimas não ousam dar o ar da graça.

O desespero aperta o peito;
A angústia assola e,
Infelizmente não há nada a se fazer.

A presença da dor,
Faze-me perceber
Que não és o maior dos problemas.
Estás vivendo tua vida,
Executando sua felicidade.
Eu cria que fosse tal coisa
A causa em si do meu sofrimento.

É a perspectiva
De possuir a felicidade usurpada e,
Não poder fazer nada para impedir;
É uma infelicidade patogênica,
Que me arrebata mesmo sem querer.

Clamo a Deus,
Que tudo isto se finde.
Não peço mais que voltes para mim,
Mas que me liberte
E recobre a felicidade e
A capacidade de amar outra vez.

sábado, 5 de junho de 2010

E VOCÊ NUNCA IRÁ PERDE-LA

Você pensa que a possui,
Pensa que tem domínio sobre ela,
E que ela estará a seus pés.

Ela nunca fez ou disse algo
Que lhe contrariasse,
Nada que quebrasse suas convicções,
Mas em seu oculto silêncio ela as quebrava.

Você pode não saber o que ela representa,
Mas ela certamente o sabe.
Toda sua confusão não tem sentido,
Já que ela é isso e tão mais que isso e,
Infelizmente você não percebe.

Ela sempre esteve a espreita.
Ela lhe velou o sono,
Acarinhou-lhe os cabelos sem a suavidade materna,
Mas com a voracidade amante.

Ela nunca o deixará,
Mas sabe que você o fará.
Ela não se preocupa em ficar só,
Pois nunca estará sem ninguém.

Você pode a outras desejar,
Mas ela nunca desejará outro.
Você se apegava a ela
Bem como a ti ela o fazia,
E não é fácil romper o que os une.


Ela lhe deu desde o princípio todos os sinais,
Pode ter errado em alguns,
Os quais foram os únicos que você viu.

Agora você sabe o que ela sempre soube.
Portanto, faça o que é certo.
Não se engane ao pensar
Que virando-lhe as costas vai matá-la;
Ela é amiga da morte e não vai sucumbir.

NÃO HÁ COMO ENTENDER

É mais que a lástima
Que ao seio lhe palpita,
Pelo bem querer inconformado
Em ser obrigado a mal querer.

É o anseio que morre ao primeiro suspiro,
Renascendo e morrendo
Em ciclo constante,
Que converge nas dolorosas ilusões.

Quando vestidas dos suspiros
E das promessas de amor eterno,
Tornam-se ternas até as mais doentias ilusões.

Quando amigas do desencanto,
Há apenas o caminho único,
Reto e irremediável das lágrimas.

Que não seja compreendido
Como o lamento desesperado
Pela perda de um alguém para toda vida,
E sim como uma canção saudosa e lacrimal
À momentos inestimáveis que jamais se repetirão.

CONFINS DENOMINADOS AMOR

Ela não é mulher
De meias palavras.
Não é daquelas que dão voltas
Para apenas chegar ao mesmo lugar.

Ela desde sempre foi a mais direta;
Indecisa em suas mil indecisões,
Perdida nas suas confusões,
Sem jamais deixar de saber o que quer.
(mas é possível que também não o saiba)

Sempre a meiguice e a ternura
Estampou-lhe a face,
Reproduzindo em seu sorriso
A energia apaixonante que a move.

De seus olhos irradia a luz,
Que a todos contagia,
Sem como e porquê.
Ela reluz por si só, e não há explicações.

Ele, também, nunca foi
O homem de deixar a vida
Dar-lhe adeus da janela do trem do destino,
Enquanto se encontrava prostrado em sua estação.

Mas era, por sua vez,
O rei das evasivas;
Aparentemente indeciso,
Enquanto suas decisões maquinalmente eram edificadas.

Senhor das máscaras,
Fantasias e personagens inúteis
Aos olhos de quem lhe percebe a essência;
Refúgio contra a exposição do coração.

Ora doce, ora completa amarguez ;
Com a espada que promovia prazer,
Dilacerava o coração,
Sem perceber sua própria laceração.

E as intempéries do destino,
Abraça e carrega vidas
Para confins desconhecidos,
Onde elas se perdem, riem e choram.
Tais confins figuram algo denominado amor.

domingo, 9 de maio de 2010

ÀS PORTAS DOS DEZOITO

Às portas dos dezoito
Não podes mais ser quem eras outrora;
Deves ser algo novo,
Teoricamente dotado de maturação prévia.

Às portas dos dezoito
Os hábitos infantis necessitam ser refutados;
Nem tudo o que vem a cabeça
Deve ser expressado;
Tuas alegações (absurdas ou não)
Não são mais relevadas.

Às portas dos dezoito
Asas estão sendo criadas,
Para tão logo alçarem vôo à liberdade, a independência,
Que nem sempre se concretizam,
Mas de forma ou outra estão sendo construídas.

Às portas dos dezoitos
Não cabem mais as indecisões,
O mundo chama-te,
Exige de ti uma resposta,
Uma postura o menos ambígua possível,
Mesmo que seja justamente este o momento
Em que todas as dúvidas resolvem aflorar.

Não és mais uma menina.
Mais que isso,
Não podes ser mais uma menina.
Tudo a teu redor clama
Para que te transformes em mulher.

Então te desespera por
Ter de ser mulher e não sabê-lo,
Por ser impossível deixar a menina.

UM DIA SEM ELA

Houve dias
Que dormi sem te-la,
Acordei contemplando sua ausência
Na esperança de que voltasse.

Houve, também, outros dias,
Em que nada esperei,
Rompendo em lágrimas
Por deparar-me com algo inevitável demais
Para não me dilacerar.

Aparentemente estes dias se foram,
Voaram para o infinito,
Onde todos os dias tornam-se
Apenas recordações.

Que ingênuo engano!
Aqueles dias se foram,
Mas outros nascem continuamente.
Transpõem-se os anos,
Continuando por anos a fio
O interminável fuso da melancolia.

Os dias sem ela nunca serão findos.
Até a eternidade há, ainda, muitos dias a transpor,
E enquanto esta não chega,
Cabe-me contentar
Com o vazio dos meus dias.

domingo, 18 de abril de 2010

POR AMANDA SEREJO

Na minha solitude,
Abandonada pelo divino
E com a aura pueril exalando
Todas as substancias que perfumam e intoxicam
O céu e o inferno de teu espírito.
Lembranças de outrora e do futuro,
Que ainda escolhia sua indumentária para se tornar o presente,
Deixaram de arfar e gargalharam.
Ele havia retornado


Reencontrou-me e esculpira
A eternidade de um dia .
Obra exposta apenas ao criador e á sua inspiração
O põr do sol brilhou,
Surpresa já vista.

A noite regressara.
Agora se prostituía,
Nua e crua,
Sem o amor da lua e das estrelas

Fui obrigada a mirar
A reprodução da deficiente e injusta
Perfeição de Deus.
Os efeitos foram tão arrebatadores como da original.

A escultura mais veraz havia sido desfeita
Para tornar-se a cópia de um espelho.
Esqueci-me que há poucas viagens
Que não necessitam de volta

Nas bagagens,
A riqueza roubada de uma andarilha.
Percebi mais tarde que ele não poupara nada

A minha morada individual pertencente
Ao abrigo do Desespero e da Força
Não estava mais lá.
Único e pioneiro tornastes
Ao levar as minhas trevas

Não consigo te odiar
E o antônimo deste belo verbo
Parece que significa um deus imortal.
No dicionário cotidiano em que busco
Compreender o infinito
Mas a ignorância não me permite
A aprender a destruí-lo

A iluminação ambígua próxima da consciência ,
Tentei apagar com a verdadeira escuridão.
A inutilidade das laminas e seu triângulo amoroso...
Naquele dia resolveu fazer amor com a Vida.
Não consegui arrombar as portas da morte

Líquidos de um corvo jorraram sobre a mente
Para fingir bonança.
Resultados inesperados.

Hoje há chamas...
Fogo e sangue pela compleição dela.
Acho que são os alicerces modernos de uma nova construção

Porém,os dias passam
Á velocidade da redenção de um anjo caído,
Apesar dos controles que os humanos colocaram na Esperança
Dizerem que é um tanto longo
Já vi que andou rápido até mesmo para estes malditos calendários.

Nova visita ao antigo
Acabo de reler o livro da nossa
Pequena e intensa história.
Fora profético em tudo:
Do sol irradiado no passado,
Ás tempestades ininterruptas do presente.
Estados meteorológicos que meus olhos passaram
Após a tua volta.
E a ingenuidade do autor permanece
Continua a crer que seus personagens
São dogmas da sua rica imaginação

Continuará a dar passos
Você sobrevive, eu não
O destino quis assim !

A musa transformada na própria arte...
A matéria prima das estátuas
É o vazio,o último estágio da realidade

Teus sentidos irão te adular,
Baseando-se no reflexo do fim,
Que de fato é a liberdade,
Mas irá tua alma alegremente tormentar-se em breve.
Com minha proximidade


Planos de existência da mesma categoria
Dificilmente unem amores eternos

POETRY TRISTESS (Por Amanda Serejo)

Noite cálida primaveril
Que trazem flores
Mas na alma
É apenas um deserto,
De uma permanencia instável
Do glacial e abiótico

Vozes etéreas de lá,
Realidade tateante,
Preservam a neve das lembranças
E consequentemente
A nevasca da culpa e da confusão

Oh noite!
Ah se voce trouxesse
O elo de meu espírito novamente
Da qual o sol homicida
De um dia o levou

Hoje eu vejo tuas estrelas
Jóias , não mais de diamantes
Mas de um velho cristal opaco e antigo
Que enfeitam tua nua treva

Sinto falta dela
A Lua do fim do inverno
Tão cheia como o sentimento de meu coração

Já estamos
No escorpião de novembro
E ela não esperou
Beber do veneno dele,
Que como eu,
Se suicidou por amar
Alguém demasiado luminoso e ofuscante
para as retinas esperançosas de um amor cego

MENINA QUE TANTAS VEZES

Menina que tantas vezes
Fiz chorar,
Só para ver a cascata de lagrimas
E ter a certeza de vinhas para meus braços.

Menina que tantas vezes
Quis beijar,
Mas que fugia para me tentar,
Para depois correndo voltar.

Menina que tantas vezes
Quis amar,
Acreditando que eras minha,
Mas eras mais que minha,
E eu não teu o suficiente.

Menina que tantas vezes
Fiz mentir,
Esconder seus reais desejos,
Suas memórias de fatos marcantes,
Seja para mim quanto para Deus e o mundo.

Menina que tantas vezes
Vi falar com o brilho no olhar
“Quando crescer vou casar com você!”,
Mas eu mesmo não cresci,
E vi o brilho se apagar.

Menina que tantas vezes
Fiz mal,
Saiba que não foi por mal,
Foi por não saber
O que eras pra mim.

DAS ESTAÇÕES

Para cada estação
Há uma parada.
Se não houvesse
Os ciclos não se concluiriam.

A vida corre pelas janelas da alma,
Passa a nossos olhos
Invisível ou sensível ao tato.

Passamos, pois,
Por diversas paisagens,
Estradas e trilhas;
A bordo dos veículos
Que o destino nos concede,
Quase sempre com a desesperadora
Pressa dos que andam com a angustia.

Então aparecem as estações,
E com elas o alívio
De descer do veículo que nos transporta
E respirar sem pressa,
Sem medo nem dor.

Deixamos de lado,
A cada parada,
Os pesos que nos fazem doer as costas,
Que fazem da vida uma empreitada maçante.

As paradas são como
Pontos finais de uma oração;
Encerram um pensamento,
Sem, no entanto, encerrar uma idéia maior.

Para Cristo as doze estações
Trouxeram-lhe a morte;
Não foram alivio dos tormentos,
Foram a consolidação dos mesmos.

De tortura e dor
São as estações da minha vida.
Sempre que nas paradas do trem do meu destino,
Eu não findo um ciclo;
Ponho-me a te buscar,
Mesmo sabendo que não vais voltar.

MAIS QUE A QUALQUER UM

Eu pensei que um dia
Fossemos um em vez de dois;
Que fugiríamos para longe,
Longe dos problemas,
Dos olhares,
De tudo.

Pensei que um dia,
Andaríamos de mãos dadas
Em direção ao infinito;
Que cada segundo da nossa caminhada
Fosse mais que um instante...

Pensei que um dia
A noite não me trouxesse as lagrimas,
Por ter a ti,
A teu corpo e calor
A velar meu sonho
E resguardar-me de meus medos.

Sonhei que você
Era o alguém
Destinado a mim desde a eternidade,
E que juntos nada separaria.

Sonhei que todas as trilhas
Convergiam em um mesmo recanto,
Com uma cama quente,
A paz necessária
E um violão.

Sonhei que de todos os beijos
Seriam os seus os mais ansiados,
E guardados com mais ternura
Em um lugar especial em meu coração.

Sonhei que você
Seria o homem da minha vida,
O que eu dividiria os anseios,
Suspiros e caricias,
E que me concederia os filhos mais lindos.

Foi então que eu descobri
Que eu te amo
Mais do que a qualquer um,
E nada mais importa.

NAS ALMAS

Pode ser que o infinito
Não dure para sempre,
Bem como ele pode ser um segundo.

Pode ser que seja
A mais completa descrição do Universo;
Das tramas que o destino
Em cama de seda tece
Enlaçando as mais improváveis situações.

Na eternidade o destino é traçado;
As almas recebem suas missões,
Condenadas à algum à alguém.
Todavia, nem toda condenação é onerosa,
A minha é doce,
Sem nunca deixar de ser infinita.

O Ente Supremo
Concedeu-me belos enlaces,
Com encantadores seres
Para que fosse deles a minha vida,
Que finita e vazia seria
Sem o calor destes corações.

terça-feira, 6 de abril de 2010

DO INFINITY

Um dia te esculpi
Como um diamante gelado,
Uma verdadeira pedra preciosa
Perdida em um coração congelado.

Por vezes, com meu martelo iludido da paixão,
Tentei lapidar e derreter esse gelo,
Numa empreitada muito vã.

Vários argumentos,
Lógicos, belos e arrebatadores foram utilizados
Culminando em um fracasso frustrante,
Ratificando os preconceitos de outrora.

Os preconceitos me consumiam,
Tomavam-me em um todo,
Que falavam mais por mim
Confundindo-me a tal ponto
De afirmar que eram por mim.
Que eram eu.

Eu me afundava em tais preconceitos
Que acabava por congelar-me também,
Equiparando-me a tua desprezível geleira.

DO ORGULHO E SUAS AMARRAS

Um velho filósofo
Um dia escreveu:
“Eu fiz isso, diz minha memória.
Eu não posso ter feito isso, diz meu orgulho.”


Sinceramente nunca possui
Um coração dotado da compulsão do orgulho;
O que por vezes
Levou-me as mais profundas humilhações.

O orgulho nunca foi algo
Que eu julgasse como imprescindível à existência,
Poderia, simplesmente, passar sem ele.

Bem, um dia tu apareceste...
Não venho aqui com o intuito de te definir,
Pois por vezes já tentei fazê-lo, em vão.

Tu tinhas um orgulho supra-estimável;
Toda tua vida orbitava
Em função dos princípios rígidos em essência
Decorrentes deste orgulho ferrenho.

Também seria hipócrita ao mencionar
Que o mesmo se findou.
Seria belo demais para a realidade,
Mas não seria eufemismo
Se afirmasse que se abrandou.


Foste tu que me apresentaste o orgulho,
O valor do mesmo.
O certo não seria apresentar,
Mas ensinar a desenterrá-lo,
Nomeá-lo devidamente.

Estavas correto,
Descobrir um oculto orgulho
Ajudou-me na autopreservação.

Em contraponto
Tornei-me refém deste orgulho,
Uma vez que não suporto
Recordar alguns dos melhores momentos da minha,
E ter de rejeitá-los por ferirem meu orgulho.

LEVADO PELA ÁGUA

Véu d’água que do céu desce,
Molhando a terra,
Ensopando a terra,
Trazendo o desabamento.

Dias atrás foste escasso,
Ralo e inexpressivo.
Hoje és impetuoso,
Com toda ira acumulada
Ao longo dos tempos.

És de uma beleza sem igual,
Ainda mais quando acompanhado
Das esplendorosas tempestades de raios,
Mas onde estão elas?

Numa noite de melancolia,
De lágrimas de chuva e,
Sem a majestade dos trovões
A cidade parou.

Corações pararam...
Vidas escoaram pelas encostas,
Pelos ralos de um destino
Que muitas vezes foi tirano.

Nunca mais derramarei
As ternas lagrimas que costumava derramar outrora,
Quando me entorpecia pela magia das gotas de chuva;
As lagrimas agora serão do mais profundo luto e pesar.

SE UM DIA FORES EMBORA

Se um dia fores embora,
Tenhas a certeza
Que estarei à beira da estrada
Acenando-te com o mais cansado dos adeuses.

Olha, por vezes já cogitei
A possibilidade de levaste comigo,
Seja pelas veredas da minha loucura,
Seja pelo inevitável caminho do destino.

Seria demasiado egoísta,
Apesar de demasiado humano;
Portanto, prefiro a liberdade.
A tua liberdade...
A minha liberdade.

Como diria o Rei
“ você foi a mais estranha estória
Que alguém já escreveu...”
Ele não mente.

Estranhas estórias
Necessitam e merecem de desfechos a altura;
No entanto, não é isto o perceptível.
É tão normal...um tão simples ponto final,
Quizá um saudoso e lacrimoso adeus.

Se um dia fores embora
Tenhas a certeza
Que há alguém que te vela a espreita,
E espera com o calor dos braços.

domingo, 21 de março de 2010

INFELIZ ESCOLHA

Por que o Ente supremo do universo
Deste-me tu;
Concedeste a desgraça de cruzar nossos caminhos;
De fazermos nós como somos e fomos?

Provavelmente Ele é dotado
Do mais perfeito mau gosto;
De um sadismo tortuoso,
Ao conceder o desprazer
De unir dois caminhos avessos
De pessoas tão complexamente opostas.

Mas Ele nos enganou;
Tu me enganaste;
Eu te enganei;
Nós nos enganamos.

Fomos impelidos a acreditar numa
Ilusão perversa demais,
Para mentes tão argutas,
Mas jovens em demasia.

Podes julgar que era dono de si,
Tendo sob o controle de teu calculismo
Todas as perdidas empreitadas
A que fomos submetidos.

Enganas-te...
Fui teu erro, teu engano, tua frustração
[ que a todos buscava esconder;
Desde o primeiro dia
Que nossos olhos se cruzaram
E o inocente laço da amizade esboçado.

Engano novamente...
Somos vis demais para tanto;
Inaptos a pureza da amizade,
Quanto mais a algo próximo
Do que se possa chamar de amor,
Mesmo que este esteja na amizade.

Eu não consigo enxergar,
Na verdade nunca consegui;
Estive cega desde sempre,
Dotada da pior cegueira:
A de não querer ver.

Para ti, certamente,
Não ocorreu a criação de algo para além da realidade;
Para além do que me mostrava.
Contudo, apesar de mostrares,
Como, deveras, és
Devaneei em excesso;
Criei uma imagem perfeita e inexistente
De um alguém imperfeito demais.

Quando, então acreditava,
Que um fim emergia ao longe e,
Configurava-se como consumado,
Descubro que foi uma infeliz e ansiada emboscada.

Podes ter sido irrelevante
As consequências para ti;
No entanto, eu mergulhei, com toda consciência,
No maior dos abismos que uma mulher poderia mergulhar.

Simplesmente me deparar como mulher;
Como uma mulher de um homem
Que não pode ser seu,
Que não quer que seja seu,
Pois para esta mulher este homem é um erro,
Bem como ela também o é.

Quão infeliz foi esse Ente
Ao entregar minha vida a tua...

1503

Como meus pés caminharam
Até este cume;
Como meus sentidos me guiaram
Através da inexperiência do escuro,
Não há nem a mínima das explicações.

Séculos se passaram
Na perdida luta
Contra o tempo e vontade;
A disposição minguava a olhos vistos,
Sem jamais apagar certo desejo.

Bifurcações se infiltraram
Num caminho reto,
Que tendia a um único e inevitável objetivo;
Mas por infantilidade ou inexperiência
Era morbidamente evitado.

O sadismo muitas vezes se fez amigo,
Com suas doces torturas e enrolos
Adiando o inadiável.
Ingenuidade fajuta?

Devo vivas ao acaso;
As sutis músicas que canta o destino
Com suas artimanhas,
Que colocam todos os pontos em seus lugares.

Após a tempestade
Veio mais que a bonança.
Veio a dor mais prazerosa das dores,
E a ansiada perda de um tecido cultivado anos a fio.

A relva se fez cama
Dos amores mais sórdidos;
Já que a sordidez é a essência
Desses amores inconsequentes e não-admitidos.

O medo, velho companheiro,
Depôs suas armas,
E voou para muito além
Da relva cama.

Deu lugar ao insano fogo,
De um desejo reprimido
Por um orgulho banal.

O fogo, pois, queimou dois corpos;
Consumidos pelas labaredas rubras
Como o sangue derramado
De um sacrifício nada dispendioso.


Parece que as forças da natureza,
Cantam ao fim tanto ansiado;
Que faz do céu chorar
As lágrimas que vão lavar uma pseudo-honra perdida.

Agora me pergunto:
Este cume que estou,
E todos os acontecimentos nele ocorridos
São, deveras, um fato,
Ou um doce, irreal e prazeroso sonho?

domingo, 7 de março de 2010

CORAÇÃO, PELE E DOIS RAPAZES

Meu coração é demasiado grande;
Não há muitas pessoas ou coisas,
Mas bastante espaço para cada uma.
Todavia, ele anda indeciso,
Num conflito tenso demais.

Estava acostumada
A determinado colo,
Determinados abraços,
Determinados beijos.
Mas estes se foram,
E o que resta é a lembrança;
Doces, ternas e quentes lembranças.

Mesmo que o tempo passe,
Que a distância se faça,
Meu coração ainda pulsa
Pelo dono dos abraços e beijos de outrora.
De alguma forma,
Meu coração ainda é dele.

Não há como ser apagado;
Ele foi meu super-herói,
Foi quem me acalentou no desespero,
Que me refugiou quando estava acuada.
Quem me fez derramar inúmeras lagrimas,
Mas que também secou outras tantas.
Alguém que me protegeu de mim.

Agora há maremotos em meu peito,
Borboletas no estomago.
Deveras, tenho medo do que vá suceder;
O entusiasmo é grande demais,
Os hormônios ativos em excesso.

Certo moço,
Com certa ginga,
Uma voz cadenciada
Com sonhos de menino perdido.
Um Pequeno Príncipe,
Um Peter Pan,
Bateu a porta do meu regaço.

Remexeu todo o meio interno,
Virou ao avesso minhas entranhas.
Desfez as antigas certezas,
Refez incertezas.
Trouxe esperanças retirando-as.

Eis que nasce um dilema hiperbólico,
Aparentemente irresoluto:
No peito o coração bate por um,
Mas o corpo não o necessita,
Na verdade necessita da insustentável leveza do ser
Daquele certo rapaz.

ESTOU PERDIDA

Estou perdida
Por não saber onde estar,
Não saber com quem ficar,
Não ter certeza se devo sonhar,
Ou ainda amar.

Estou perdida
Pois no cassino da vida
Apostei todas as minhas fichas.

Viajei milhas e milhas
Apenas para jogar,
Mas acabei por perder,
E nada mais me resta para voltar para casa.

Na verdade nem sei se tenho casa.
Ela pode ser um abrigo,
Uma cabana,
Uma rede,
Ou até algum colo.

Mas até em colos me perdi...
Perdi o que julgava valioso,
Que realmente não valia nada,
Apenas valia para me atormentar.

Estou perdida
Por ser incapaz de me encontrar,
Mesmo que redundante e obvio seja.

Também não desejo me encontrar...
Quem sabe algum dia,
Alguém me encontre,
E me tire da vida da eterna perdição.

EU VOU EMBORA

Eu vou embora,
Não de casa,
Nem da escola,
Menos da vida.

Vou embora de mim;
Vou fazer as malas da consciência
E dar adeus aos sonhos de outrora.

Vou embora do eu,
Do Superego que domina,
Que restringe meus instintos e impulsos.

Vou embora
Por não aguentar mais a mim mesma,
Não aguentar meu coração,
Minha alma.

Ambos são tão profundos,
Intensos demais para serem humanos,
Frágeis e limitados
Para tanto amor,
Tantas dúvidas e incoerências.

Vou embora de mim
Por estar cansada de amar;
Cansada de chorar por amor.
Sejam tais lágrimas de alegria ou de dor.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

NÃO QUERO LHES DIZER ADEUS

A distancia me assusta,
As longas retas nas estradas
Produzem a angustia única
Da separação que anseia em ser rompida.

As luzes da cidade à noite
Trazem-me a saudade daqueles
Que por algum infortúnio
Partiram para sempre ou apenas para longe.

Nem que o longe seja
Um outro caminho
Dentro de uma mesma rede de escolhas.

Ao recostar a cabeça no travesseiro
A solidão abate.
Não ter as calorosas palavras
De consolo, de sacanagem;
Os efusivos e sinceros abraços
Torna-me tão frágil e tão vulnerável.

É também na cama
Que recordo os corpos
Que um dia se fundiram ao meu;
Das caricias ardentes que provei;
Dos beijos mais insanos.

Há, pois, o vazio dos teus braços,
Refugio único e eterno,
Que me protege,
Traz paz, conforto e consolo.

O deprimente de tudo
É a cruel certeza
De que no fim de um túnel
Haverá uma bifurcação
Que levará para longe do meu lado,
Aqueles com que minha vida fez mais sentido.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A MERDA VEM ME BUSCAR

Eu vejo o imoral,
Considero-o ilegal,
Uma vez que a verdade
É que ele é o que há de mais natural.

Há infinitos dualismos,
Para muito alem do sim e do não;
Do que pode ser julgado como bem ou mal.
É o não querer intrínseco a um querer forte demais.

Acabo por ser subjugada,
O querer toma a dianteira,
Mediado pelo impulso e
Pelo desejo que inutilmente tento encobrir.

Luto contra meu orgulho,
Que outrora ferido,
Tenta se restabelecer,
Mas é submetido ao arrebatamento da vontade.

O juízo grita ensandecidamente,
Alerta do perigo,
Dos riscos iminentes
Das explicações a serem arguidas.

O juízo faz o prelúdio
Da merda que virá.
Eu vejo a merda se aproximar,
Mas não resisto,
Há uma força que me impele a sua direção.

Cada vez mais eu vejo
A merda vindo me buscar,
E eu corro loucamente para ela.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

VEZ

Vez que caminharás
E não descansarás;
Buscarás e não encontrarás
O que ao seio lhe palpita

Vez que hoje falam
As bocas que outrora eram mudas,
E mudas bocas cantarão
Um hino único,
Mítico e de silencio.

Vez que o silencio
É mais que palavras escusas,
É a voz que dança
E se faz ouvir
Pelos inaudíveis ouvidos.

Vez que a gloria, a vitória
Provém menos da força e da destreza
Do que da grandeza de alma e da astúcia.

Vez que é inútil,
Vil e vã a empreitada da mentira
Ao desmentir o obvio,
Que soergue a olhos visto,
E que resguardam a sua ocultação.


Vez que a verdade
É ingênua malicia
Aos olhos do lobo da mentira,
Uma vez que é a mais tênue
Manifestação de uma mentira
A qual foi desprovida de exercício.

Vez que a esperança
É a mais falsa das paixões humanas;
Edifica a ilusão
Que perverterá e perder-se-á
A vista límpida do mundo,
Vista agora sob a máscara da possibilidade do impossível.

Vez que a esperança
Não dignificará o homem,
Desonrará seu caráter,
Uma vez que o fará proferir e crer
Na mais ímpia das mentiras,
Tornando-o cego de própria vontade.

Vez que o amor
É nobre e digno por essência,
Não menos falso, desolador e torturador,
Uma vez que repudiado por outrem,
Toma a renuncia como arma de guerra.

Vez que o nada
É nada mais que tudo
Que se possa ver, tocar e sentir
Aprisionado na cama do vazio...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

ATÉ AQUI LEVOU?

Por mais que se tente,
Não sei o que estou fazendo aqui,
Não consigo visualizar as causas disto,
Nem reconhecer os enlaces do destino
Que resultaram nisto.

Parece que tudo se perdeu;
Tudo que possuía algum valor
Apresenta-se como inútil e falso.

É como se estivesse
Mergulhado em um furacão,
Na turbulência de um turbilhão
De expectativas e idéias inovadoras
Que emergem como filhotes de coelhos.

É pena que tão rápido
Tornem-se vãs e descartáveis;
Desprezadas ao acabarem de nascer,
Sem a mais tênue possibilidade
De fazerem-se vingar.

De explosões e supernovas
Configuravam os dias;
Constante ciclo de destruição e reconstrução,
Onde a cada dia era necessário
Construir esse dia e o que ontem se destruiu.

Sei que peguei o caminho errado;
Entrei diversas vezes na contramão da vida,
Colidi com braços que me ninaram,
Acalentaram-me;
Foram meu alento e minha desgraça.

Se um dia andei depressa,
Foi por não haver o que interessasse,
Mas hoje a solidão
Faze-me andar com a cautela
Dos que andam só.

Por mais que se tente,
Nada explica o aqui e o agora:
Um eu sem um você
Que bate na porta sem ser atendido.

(NÃO) ERA MAIS

Não era mais
Como outrora foi;
Modificaram-se os padrões,
Depuseram os paradoxos.

Nada mais era o mesmo;
Tudo estava esparso e diverso.
Não era mais o habitual,
Repentinamente tudo era novo.

Não era mais
A eterna candidez
Típica da meninice;
Era algo mais voraz.

Não havia a inútil
Necessidade do calor,
Do aconchego do corpo
De algum afeto.

Era, portanto, a solidão
Na sua expressão mais límpida,
E livre dos eufemismos poéticos.
Havia a companhia do nada,
As vozes do silencio.

Não possuía as lágrimas,
[Que um dia foram companheiras,
Nem para nascer em seu âmago
A costumeira revolta.

Era mais que um coração vazio,
Pelo contrario, era um coração tão cheio:
Cheio de uma alegria incondicional,
De um amor inesgotável,
De uma carência insaciável.
Era, na verdade, um coração solitário.

Não era mais
As dores de amor que ardiam do peito.
O amor havia decidido tirar umas férias;
Conhecer outros lugares,
Lares e corpos.

Era um vazio insubstancial,
Em meio a tantos atrativos,
Tantas multidões.
Cheio demais para estar vazio.


Era mais que
As dores da meninice;
As alegres dores da inocência,
Acompanhadas das mais ternas duvidas.

Eram as dores da adultez;
Dores da mulher;
Nascentes e fulgurantes.
Novidades em um corpo
E em uma mente
Emersos nas duvidas
Do “como agir”,
Uma vez que agora era por si
E não havia mais ninguém.

Não era mais que uma menina,
Mas, deveras, era mais que uma bela mulher.

domingo, 31 de janeiro de 2010

POEMA BOBO TIRADO DO BOLSO

Eu te amo
Por não saber mais o que fazer;
Amar-te és a única coisa que me resta,
É o alento da minha alma
Sozinha no mundo.

Eu te amo
Por ver que tu
És alguém que me transforma;
Alguém que se faz único e
Insubstituível em minha vida.

Eu te amo
Por faltar as palavras mais singelas
Para te definir,
E definir todo o que me abate.

Apenas sei que te amar
Torna-me mais vivaz,
Mais exuberante,
Com mais esperança nas pessoas.

Eu te amo
Porque fazes o inesperado,
Porque és inesperado,
Mesmo que te espere em meus sonhos.

Eu te amo
Por ser diferente,
Peça exclusiva da minha coleção.

Não sei o quanto amo
[mas sei que amo;
Não sei o quanto vai durar
[mas sei que vai durar o necessário;
Não sei quem vais ser amanhã em minha vida
[mais sei que vais ser importante.

ESTRANHA

Esse mundo não me pertence.
Ele em seus giros e fusos
É tão estranho e tão novo.

Mas o que posso fazer?
Já vaguei por vários mundos
E neles me perdi ainda mais.

Essa época não me pertence.
Suas danças,
Suas musicas e seus ritmos,
Todos me são estranhos.

Sou um ponto perdido
Numa terra de ninguém;
Um coração a pulsar gritante
Sem ser ouvido.

Sou uma solitária
Em meio às multidões;
Uma estranha a todos os ambientes.

Sou minha melhor amiga,
E a pior inimiga.
Amo-me mais do que ninguém,
Mas também me odeio
Por justamente não me amar o suficiente.

Num mundo de tantos sinônimos,
Sou quase como exclusiva.
Sou duas almas
Lutando dentro de um mesmo corpo.

Sou sutil e brutal;
Sou doce e amarga;
Cândida e libertina;
Santa e puta.

Sou estranha a todos,
Sou estranha a mim.
Julgam-me por algo
Que nem ao menos sei
Se realmente sou.

Sou perdida num mundo,
Numa época,
Perdida em mim.

Esse mundo não me pertence,
Eu não pertenço a ele,
Será que a mim me pertenço?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ENCONTREI AO DESENCONTRAR

Pensar é um ato,
Apenas por pensar tomo posse da existência,
Descubro-me como sendo um ser pensante
E existente,
Sendo capaz de sentir e sentir-me,
Tornando-me um fato,
Algo verídico de carne e osso.

O mundo é a eminência!
Iminência de estar em determinada posição
Em determinado momento;
Iminência de encontrar o desconhecido
E esquecer completamente o conhecido;
Iminência de falar o que vem
Engasgado na garganta
E que vai-lhe sufocando o peito;
Iminência de simplesmente
Fazer acontecer.

Quem sabe vive
Mesmo não tendo consciência que sabe.
É a certeza de ser velho conhecido do desconhecido;
De caminhar de mão dadas com o perdido;
De compreender o inconcebível.

Da arte lhes revelo a vida,
Removo o véu que lhes cobre
Desde o dia do nascimento,
E que lhes cega.
Com palavras retiradas
Do mais profundo do seio niilista,
Venho-lhes contar
Que a vida é muito mais que o nada,
Apesar de este ser seu o cordão umbilical.

O Criador me abençoou com o dom da palavra,
É com ela que canto às artes da vida;
É com ela que grito
Os gritos que dilaceram o silêncio
Que por vezes se apossa,
Por faltar à voz;
Por faltar à coragem.

Peço-lhes perdão
Se ofendi o silêncio.
Pelo contrario,
O silêncio é a morada
Para onde todos nos dirigimos
Quando reclinados ao sono.
Todavia,
O sonho não é silêncio,
É a voz que fala através dele,
Dos seus anseios e medos,
Dos desejos mais profundos e reclusos.

O fato seria, portanto, um ato?
Em ato, se constrói o processo,
Seja este com argamassa,
Com pensamentos e palavras.
O próprio pensamento já faz ser,
Sendo, então, um fato culminado e mudo.
Mudo?

O fato precisa de registro,
Seja ele fotográfico ou ortográfico;
Não posso eu conceber um fato mudo,
Pois seria equivalente a escrever sem palavras,
A exercer a razão sem a própria.

Surpreendo-me devaneando
Acerca da realidade.
Seria ela uma sucessão
Efêmera, trágica e fatídica?
Bem percebo que é mera aparência,
Como uma máscara que recobre
A verdadeira identidade do artista.
Uma aparência que se desnuda
Com tamanha tragicidade,
Que questiona a própria questão
Do que vem a ser aparência.

Suponho que aparência
Seja mais que o parecer,
Seja o que se deseja ser visto,
O mostrar-se,
O aparecer.
Aparecer o que?
O que deveria ser revelado?
Algo como a essência?

Que diabos seria então a essência?
Suponho também
Que seja mais que o vir a ser,
Que não seja algo transmutável,
Mas algo uno e exclusivo,
Como o próprio ser.

Enfim, tudo culmina por ser
Uma questão de acreditar.
Acreditar que tal coisa é verdade,
Mas que também pode ser mentira;
Acreditar que tudo é possível,
Apesar de o impossível ser mais visível;
Ou apenas acreditar que acredita,
Simplesmente ter fé.

Bem se sabe que fé
É acreditar no invisível,
No pouco plausível e racional.
Para, além disso,
A fé é um não saber conformado;
É um saber irracional e involuntário,
Simplesmente há uma fagulha,
E sabe-se que tal fagulha sabe e isso basta.

Novamente o peso da realidade
Faz-se presente.
Existir algo real é tal ilógico
Quanto conceber a existência do irreal (surreal).
Para tanto,
Afloram as saudades do que outrora
Não foi sentido muito menos vivido;
Mas também, do futuro tenho saudade,
Do que nem ao menos conheci.

Será que conhecer confere existência a algo?
Ou melhor, o não conhecer esvazia a possibilidade da existência?
Então, a falta que sinto do desconhecido,
É meramente a falta de um nada.

A percepção do conhecer inerente a existir
É atemorizante,
Pois sou um mistério a mim mesmo,
Uma Caixa de Pandora,
Que não sabe que surpresas guardadas em seu interior.
Sempre julguei que existia,
Por acreditar ser o pensamento
O elemento que confere existência.
Se não me conheço,
Tanto como muitos,
Somos todos uma multidão
De seres que não são
Por não saberem quem são.

O QUE GOSTAS?

Gosto das coisas que ninguém gosta.
Gosto de sentir o que ninguém gosta.
Gosto de pensar o que todos se negam.

Gosto dos contrários,
Dos opostos dos avessos.
Gosto do silencio dos gritos,
Do silencio que permanece após os gritos.

Gosto das tempestades,
Das fúrias pluviais,
Do vigor viril que as águas virtuosas
Possuem ao causarem a destruição,
Gosto dela também.

Gosto da solidão,
De seu brilho escurecido
Que só se aprecia na própria escuridão.
Gosto de falar sozinho,
Respirar e sentir a liberdade da solidão.

Mas a solidão sempre me traz
Como acompanhante e hóspede a tristeza.
Não é com pesar que digo isso,
Pelo contrario,
Gosto da tristeza.
Ela é sempre inspiradora;
Faz-me compreender o que sou perante
A tudo que vejo e estou.

Não gosto é das lágrimas,
Assim como os trovões nas tempestades.
Eles me despertam medo,
Um medo tão irracional,
Que os atraem cada vez mais para mim.

Mas gosto muito do medo,
Das sensações que ele provoca,
Do que ele desperta em meu organismo.
O medo é como um mel do prazer,
Uma forma de intensificar o prazer.

O medo pode me causar duvidas,
Tirar-me o sono,
Mas não se torna um empecilho
Na concretização dos desejos,
Os torna mais apetitosos.

Pois que venha o medo
De mãos dadas com o proibido,
Pois irei abocanhá-los,
Para deles tirar o sumo do prazer.

UM IMPÉRIO QUE PODERIA SER SEMANTICO

Meninos perdidos,
Sozinhos em meio as explosões
E as traçantes das palavras.

Sujeitos ocultos,
Cujo pseudônimo
Impinge poder sob o signo
Do obscuro imperio do narcotráfico.

Vidas de indeterminadas funções,
De vozes passivas;
Expectadorese agentes numa guerra
De predicado nem um pouco verbal.

A ordem direta insiste em ser reestabelecida.
-Ingênuos!
A regência do poder paralelo
Dificilmente entrará em derrocada.

Longe dos eufemismos
Que as eleites insistem em acreditar,
A realidade é hiperbolicamente drástica.
A convivência nem sempre
Será um adjunto da criminalidade,
-Mas sejamos realistas!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O PASSADO E AS LEMBRANÇAS

O passado é estrela
Que no céu hoje vemos,
Mas que há muito ocorreu e,
O que vemos é uma espécie de fotografia.

As dores, as alegrias....
Podem se manter tímidas e resguardadas
Dentro das gavetas do tempo,
Bem como podem emergir
Com sua putrefez e magnificência.

O que é amargo tende sempre
Ao descaso,
Ao esquecimento.
[Mas se eu gostar de chocolate amargo?
Contudo,
O que é mais curioso,
É que justamente o amargo que molda as pessoas,
As torna invulneráveis e rudes.

O pútrido,
O amargo,
O doloroso
São entes que despertam o imaginário,
Ainda mais quando outrora
Andavam de mãos dadas com o prazer.
Por pior que pareçam ser
Recordados sempre serão.

O doce,
O belo e puro
São doces demais
Para não serem enjoativos.
Despertam coisas boas,
Incitam a felicidade,
Mas são tão clichês...todos o desejam.

Não gosto de clichês...
Nunca gostei...
Amo chocolate amargo e,
Um bom cheiro de suvaco.

-Mas o melhor a ser feito
É não desenterrar as relíquias,
Segredos e paixões do passado.
[O passado passou e ponto.

PRA NÃO LEMBRAR

Fazia tempo, então.
A ferida estava fechada
E os olhos já não molhados.

Houve o tempo mais introspectivo,
Mais provedor de espírito e,
Mais reflexivo.

As lembranças de outrora vinham,
Mas voltavam como a onda no rochedo,
Sem nenhum abalo.

O coração já não batia tão forte,
As pernas já não se punham bambas e
Os pelo não se ouriçavam mediante o calor do arrepio.

-Seria isso, portanto, a realidade?
A frieza, ou talvez a apatia,
Haviam lhe abatido?

Perecia de saudade,
Mas nada que fosse tão maçante,
A ponto da lividez lacrimal.

O toque,
A carícia ingênua,
O afetuoso beijo no pescoço,
Seria o fuzilamento
De certezas e firmezas.

Então se treme,
Chora-se,
Lembra-se de fatos
Que ontem se julgavam
Como pertencentes ao reino do passado,
E que por lá haviam se enterrado.

-Por que ressuscitar, então?
Não digo reviver,
Pois, deveras, se configura como inviável,
Contudo, meramente recordar
Torna-se trucidante.

É de tamanha humilhação,
Que se torna preferível
Lutar para encobrir
O que jamais deverias ter descoberto.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ELE PASSOU POR MIM,E EU NEM DISSE ADEUS

Parece que ele corre mais depressa,
Esvai-se sem ser percebido e,
Quando se depara
Já se foi pelos ralos do destino.

Se foram as oportunidades,
Se foram os momentos,
Se foi a juventude.

Sua menor parcela
Muitas vezes não se faz notar,
Mas se olharmos para traz,
Foi tão importante
E tão indevidamente aproveitado.


-Oh desgraçada efemeridade!
Levas o melhor da vida,
O melhor dos outros,
O melhor de mim!
Por que não te findas?

Aos dez, aos vinte e até aos trinta
Não se notifica o seu peso,
Mas então surgem as rugas,
Os cabelos brancos,
O cansaço oriundo dos anos.

Com uma bagagem de anos
Não sentimos mais a efemeridade das coisas,
Estas apresentam um proceder mais vagaroso.
Todavia, sentimos a dor do que foi permitido passar em branco,
E a frustração de ter sido algo tão involuntário.

Um segundo voa nas asas dos pensamentos,
Um dia, na velocidade da transição de dias e noites,
Um ano, na sucessão de lagrimas e sorrisos,
Uma vida , na efemeridade do tempo que nos é concedido.

domingo, 24 de janeiro de 2010

SAUDADES (por Clarice Lispector)

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,eu sinto saudades...Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...Sinto saudades da minha infância,do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...Sinto saudades do presente,que não aproveitei de todo,lembrando do passadoe apostando no futuro...Sinto saudades do futuro,que se idealizado,provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!De quem disse que viriae nem apareceu;de quem apareceu correndo,sem me conhecer direito,de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!Daqueles que não tiveramcomo me dizer adeus;de gente que passou na calçada contrária da minha vidae que só enxerguei de vislumbre!Sinto saudades de coisas que tivee de outras que não tivemas quis muito ter!Sinto saudades de coisasque nem sei se existiram.Sinto saudades de coisas sérias,de coisas hilariantes,de casos, de experiências...Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um diae que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,Sinto saudades das coisas que vivie das que deixei passar,sem curtir na totalidade.Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...não sei onde...para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudadesEm japonês, em russo,em italiano, em inglês...mas que minha saudade,por eu ter nascido no Brasil,só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,espontaneamente quandoestamos desesperados...para contar dinheiro... fazer amor...declarar sentimentos fortes...seja lá em que lugar do mundo estejamos.Eu acredito que um simples"I miss you"ou seja lácomo possamos traduzir saudade em outra língua,nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.Talvez não exprima corretamentea imensa faltaque sentimos de coisasou pessoas queridas.E é por isso que eu tenho mais saudades...Porque encontrei uma palavrapara usar todas as vezesem que sinto este aperto no peito,meio nostálgico, meio gostoso,mas que funciona melhordo que um sinal vitalquando se quer falar de vidae de sentimentos.Ela é a prova inequívocade que somos sensíveis!De que amamos muitoo que tivemose lamentamos as coisas boasque perdemos ao longo da nossa existência...

UMA HISTORIA DE AMOR INVENTADA

Ela e ele se aproximavam,
Iam construindo uma amizade
Acima de quaisquer suspeitas.
Uma amizade sólida e incondicional.

Era de um envolvimento tão grande,
Tão puro...tão inocente,
(isso é romantismo barato)
Para ser sincero, era bem verdadeiro.

Foi então que se começou a especular:
-Fulana, você está com sicrano?
As voltas para casa despertavam
A maledicência alheia,
Sempre introspectivos e mergulhados em suas conversas
Eram indiferentes aos demais.

Era setembro...
O céu estava nublado,
E eles sozinhos.
Falavam sobre trivialidades,
Enquanto, na verdade,
Sentiam um o calor do outro.

Decorreu-se o inesperado para eles,
Completa surpresa,
Mas o óbvio pra todos.

Era estranho,
Era intenso e enlouquecedor,
Até se tornar comprometedor.
Eles se deixaram comprometer,
Apesar de não haver um comprometimento total.

O comprometimento gerou desentendimento,
Gerou lagrimas e mais lagrimas
De um dos dois corações.
Eles se afastaram e nada mais falaram.
Ela teve ódio dele,
Recusou-se a falar-lhe,
Apesar disto ser como uma faca no peito.

Passado um bom período de tempo,
(e desconhecida a motivação)
Ele buscou fazer-se entender perante a ela,
Pediu perdão por qualquer coisa que poderia ter feito
(apesar do perdão ser difícil,e não encontrar o erro).

Reaproximaram-se, mas nunca foi igual,
Por vezes apenas uma palavra de bom dia
Era trocada durante todo o dia.

Ela o queria de volta,
Mas não era bem isso
O que ele desejava.
Ela, então, se tornou obsessiva.

Ele fraquejou
Concedendo-lhe um dos seus desejos,
O que gerou infinitas ilusões e esperanças no coração dela,
Para no dia seguinte ele matar a todas,
Com uma peculiar doçura
E um peculiar cuidado.

Era evidente que ali estava
Uma demonstração do amor dele,
Que ela nunca conseguiu observar.
(até então)

Ela se pôs a chorar infinitamente,
Despencou em uma depressão inconcebível,
Que ia matando-a paulatinamente,
Tirando-lhe as forças e a composição.

Repentina e aleatoriamente
Outra circunstancia comprometedora aparece,
Eles mergulham mais fundo,
Sem, no entanto, chegar ao substrato.
E vão repetindo esse comprometimento
Que era saciável sem ser satisfatório a ambos.

Ele então retoma o domínio de sua sanidade
E finaliza tudo.
Ruma seu caminho para outra vereda,
E seus caminhos se tornam cada vez mais paralelos.

Ela sofre mais que nunca.
-Convenhamos, ela já estava dramatizando demais,
Já estava fazendo uma tempestade em copo d’agua,
Colocando-se, involuntariamente, na figura de vitima.
Quanto mais sofria,
Mais obcecada e neurótica se tornava,
Afastando cada vez mais ele de seu lado.

E pela terceira vez os dois iam se comprometer.
Mas agora ela já estava mais forte,
Mais firme e segura de si,
(mas continuava neurótica e obcecada).

Ela foi ridícula,
Deu um show,
Pagou um temendo mico.
Ele já estava cansado
De todos os showzinhos dela,
De todos os seus dramas.

Então explodiu!
Falou tudo o que lhe irritava
E lhe causava desprezo,
(apesar de não estar satisfeito em desprezá-la)
Falou tudo o que ela precisava ouvir para acordar.

Ela ouviu tudo.
Tentou em vão replicar,
Mas seus argumentos eram inúteis,
Ela sabia que ele estava certo,
Mas não suportava dar o braço a torcer.
(ele também não)

O que ouviu
Doeu-lhe o coração como nunca,
Mas ela não derramou uma lagrima sequer.
Pelo contrario,
Ela passou a observar tudo de uma forma melhor,
Compreendeu todos os erros que havia cometido,
Que seus desejos de bondade
Refletiam nele como sendo egoístas e maus.

Ela, então, descobriu que o amava!
E o mais surpreendente para ela
Foi descobrir que ele também a amava,
Mas de uma maneira bastante diferente da dela.

Ela percebeu que
Para amar não é necessário possuir.
Poderia muito bem amá-lo como amigo,
Como outrora acontecia.

Por fim percebeu-se
Que com a amizade compreende-se
As coisas incompreensíveis ao amor.

DAS FLORES

Gosto da beleza das flores,
Dos odores mais diversos por elas exalados,
Da inocência única de suas pétalas,
Do frescor que o vento traz
Quando as carrega.

Receio por suas vidas,
Tão breves, leves e frágeis,
Susceptíveis a qualquer abalo,
Qualquer toque mais brusco.

Ingênuos, ainda, são os espinhos...
Podem espetar e furar,
Por vezes até fazer sangrar,
Sem jamais, deveras,
Macular ou ferir alguém.

Um dia elas se abrem,
Resplandecem seu viço,
Deleitam os olhos
E as lentes das câmeras fotográficas.

São o fast food dos insetos,
Concedem o essencial néctar as abelhas,
Nutrindo seus filhos e irmãos;
Peças chaves para a polinização.

São recolhidas de seu recanto
Para se ocuparem do embelezamento de recintos,
Para repousarem nas doces mãos
De uma ansiosa noiva,
Ou nos braços enfeitados de mães e namoradas.

Acabam por esquecidas,
Relegadas a algum vaso d’agua,
Criadouro de mosquitos,
Sem sua seiva necessária a vida,
Resta-lhes dormir para sempre
Com seu viço murcho,
Que um dia a muitos encantou.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sentir-se amado (por Martha Medeiros)

O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama. Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado. Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se. A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também? Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho". Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato." Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta. Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo

Das analises da Maranata

Seria este lugar real?
Seriam essas pessoas
Compostas de carne e osso como nós?

Lugar simples,
Singelo e acolhedor.
De singular ternura
E encoberta lavagem cerebral.

Espécie de universo paralelo religioso,
Onde a religião
Não se auto-intitula como tal,
Mas exerce um incomum domínio.

Pessoas que se presumem
Como detentoras do conhecimento divino,
Somente entre elas partilhado.
Esse conhecimento não é exclusivo,
É difundido nas mais diversas religiões.
Ingenuidade da parte deles, ou presunção?

A harmonia é visível,
Há a fraternidade despojada
Da comercialização da fé
Visualizada em outros templos.

Tal harmonia apenas se mantém,
Caso se siga cega e radicalmente
Os escritos de um livro,
Cujo entendimento só se faz
Com a interpretação metafórica.

E a matriarca das leis cegas e radicais
É a submissão incondicional da mulher.
São proibidas as calças e decotes,
A valorização da perfeição do corpo feminino
É encoberta e plenamente desencorajada
Pelas longas saias e vestidos.

É divino movimentar toda uma vida
Em prol da busca da salvação na eternidade,
Contudo,
Não esqueçamos da vida na Terra.
E um medo emerge em meu ser:
Que as mulheres não retrocedam
A um estagio de servas de seus varões,
Uma vez que o movimento feminista tanto conseguiu!