Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 21 de março de 2010

1503

Como meus pés caminharam
Até este cume;
Como meus sentidos me guiaram
Através da inexperiência do escuro,
Não há nem a mínima das explicações.

Séculos se passaram
Na perdida luta
Contra o tempo e vontade;
A disposição minguava a olhos vistos,
Sem jamais apagar certo desejo.

Bifurcações se infiltraram
Num caminho reto,
Que tendia a um único e inevitável objetivo;
Mas por infantilidade ou inexperiência
Era morbidamente evitado.

O sadismo muitas vezes se fez amigo,
Com suas doces torturas e enrolos
Adiando o inadiável.
Ingenuidade fajuta?

Devo vivas ao acaso;
As sutis músicas que canta o destino
Com suas artimanhas,
Que colocam todos os pontos em seus lugares.

Após a tempestade
Veio mais que a bonança.
Veio a dor mais prazerosa das dores,
E a ansiada perda de um tecido cultivado anos a fio.

A relva se fez cama
Dos amores mais sórdidos;
Já que a sordidez é a essência
Desses amores inconsequentes e não-admitidos.

O medo, velho companheiro,
Depôs suas armas,
E voou para muito além
Da relva cama.

Deu lugar ao insano fogo,
De um desejo reprimido
Por um orgulho banal.

O fogo, pois, queimou dois corpos;
Consumidos pelas labaredas rubras
Como o sangue derramado
De um sacrifício nada dispendioso.


Parece que as forças da natureza,
Cantam ao fim tanto ansiado;
Que faz do céu chorar
As lágrimas que vão lavar uma pseudo-honra perdida.

Agora me pergunto:
Este cume que estou,
E todos os acontecimentos nele ocorridos
São, deveras, um fato,
Ou um doce, irreal e prazeroso sonho?

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