Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

AO MEU DESCONHECIDO

Sob a companhia do luas,
Iluminada pela noite
Caminho pelas ruas desertas
A procura de uma residênciam,
Uma única residência:a tua.

Interrogo árvores e morcegos,
Postes e praças;
Onde habitas,
O que fazes,
Quem és.

Envolta numa aura de loucura
Vago errante procurando alguém
Que nem ao menos sei quem é.
Apenas um motor impulsiona-me a buscar-te.

Podes ser qualquer um,
Mas sei que és especial.
Um desconhecido familiarmente
Perdido na multidão.

Um jardim;um casebre.
Uma porta de madeira;um quarto.
Uma cama e te encontro
Adormecido no calor de sua miséria.

O pulso palpita,
Voo a teu encontro.
Abraço-te,acarinho-te.
Beijo seus lábios frios.

Estranho a quentura do quarto
Estás frio como o gelo.
Minha mente devaneia:
-Será que apaixonei-me por um vampiro?

Como um fetiche doentio
Prossigo arrastando meus lábios
Por teu queixo,teu peito,teu pescoço.

Pavor!
-Onde está o pulso?
Morto!

Meu desconhecido,
Mesmo sem saber quem és
Amo-te de tal maneira,
Que prefiro transcender e
Unir-me a ti na eternidade.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

MEU CORAÇÃO

Meu coração está aos pulos,
Faz tempo que não engulo
Teus absurdos.

Meu coração está em brasa,
Não tem mais a casa
Que aconchegue suas paixões.

Meu coração está no escuro,
As luzes se dissiparam,
Como o esvoaçar da fumaça dos canhões.

Meu coração chora
Por uma tristeza que o devora
E se evapora
Com o menor toque dos labios teus.

Meu coração é pura canção
Que escrevo com emoção,
Ao lembrar de teu sorriso.

Meu coração é a chama
Que se inflama
Quando me abraças.

Meu coração é arisco,
Que de rabiscos
Decifra teu amor.

ALTO DE UMA MONTANHA (por Sandro Pereira)

Cansado da rotina,
Parado na esquina
Não aguento as pressões,
São tantas ambições,
Tenho tantos patrões.

Cabeça explodir
Que fugir daqui
Preciso de sossego,
Quero seu aconchego.
Longe da falsidade
Dessa enorme cidade
Busco minha felicidade.

Não quero ser achado,
Pra sempre isolado
No alto de uma montanha.

No alto de uma montanha
Observo a multidão.
No alto de uma montanha
Solidão me acompanha.
No alto de uma montanha
Posso até voar.
No alto de uma montanha
Com a lua conversar.
No alto de uma montanha
Natureza me estranha.

Sem a obrigação
De ter um ganha-pão.
Minha mente vazia
Não é do tal diabo.
Estou achando um barato
No alto de uma montanha.

sábado, 22 de agosto de 2009

Minha terra tem palmeiras

Minha terra tem palmeiras
Onde não canta o sabiá.
O sabiá foi extinto.

Minha terra tem palmeiras
Onde não canta o sabiá.
O sabiá que foi extinto
Teve seu habitat roubado.

Minha terra tem palmeiras
Onde não canta o sabiá.
O sabiá que foi extinto
Perdeu seu habitat
Para construirem shopping
Para gringo gastar.

O sabiá,ave do Brasil
Perdeu seu lugar
Para o capitalismo vil,
Que derrubou,sufocou,matou
Seu lar,seu ar e o próprio sabiá.

NÃO DÁ PARA NAMORAR

Não dá mais para namorar!
Não há como devanear,
A noite sob o luar,
Com teu amor a acompanhar.

Não dá mais para namorar!
É difícil encontar
Quem se possa o coração confiar.
Tudo é um tal de jogar
Palavras,sentimentos,beijos ao ar.

Não dá mais para namorar!
É melhor várias somas formar,
Do que a qualquer um se entregar,
Para numa cama vazia se por a chorar.

CACHOEIRA

O véu d'água cobre
A copa verdejante das árvores,
As marquizes dos arranha-céus.
Cobre também teu belo rosto
A destacar na multidão.

Majestosa água que do céu desce
Para formar rios.
Encantador tintilar de águas ,
Que correm apressadas
Para o desconhecido.

Deixo-me fluir pelos rios
De águas incandescentes,
Dessa paixão indecente,
Sem o medo de ao final
Deparar-me com uma cachoeira.

URUBU

Urubu,urubu!
Venha até mim,urubu!
Poupe-me de tanto sofrimento,
Arranque-me este coração,urubu!
Coração assassinado por amor.

Bendito urubu!
Maravilhoso és tu!
Corrói a podridão da alma,
Satisfazendo-te imensamente!

MEUS VERSOS

Meus versos são como
O canto do vento,
Como o dançar dos girassóis.

Meus versos são cheios de magia,
Da magia da minha tristeza.

Meus versos tem ar de consolo,
De cansaço,
De um coração arrasado!

CHEQUE-MATE

A rainha há muito vagava
Procurando um peão,
Mas eis que encontra um cavalo,
Que como se fosse alado
Materializa-se no tabuleiro de seu coração.

Antes do cavalo entar em sua vida,
A rainha era negra,viva,humana.
Mal poderia imaginar
Que seu futuro fosse o completo avesso
A suas pretenções.
Que seu cavalo fosse um vampiro.

Mas o cavalo é inatingível,
Impossível mesmo para a magnânima rainha,
Que vai em busca de um peão,
Sem muito em especial.

Mas a pobre rainha estava enganada.
O cavalo a quer,
Mas não da maneira que ela imaginava.
Ele quer seu sangue,sua vida.
Sua ira é esplendorosa,
Ninguém pode tocar sua rainha,
E como ousa um peão corrompê-la.
Pobre peão...tão fraco,tão vulnerável e mortal.
Facilmente é escorraçado da vida da rainha.

Eis que o cavalo obtém seu troféu,
Sua vítima,
E a rainha seu maior sonho.
A sede do vampiro se esvai,
Não quer mais o sangue de sua rainha,
Quer seu coração,
Sua alma,
Seu amor.

Antes de tudo é necessário
Que se rompa com a barreira
Que norteia o mortal e o imortal.
Tem que embranquecer sua rainha
Com seu beijo de vampiro,
Para enfim viver por todo o sempre.

PALAVRAS

Um dia
Um poeta do acaso
Manipulou palavras,
Argumentou atos,
Traduziu olhares.

Usou da magia de papel e caneta
Para alimentar os sentimentos
De um sensível coração.

As palavras do poeta
Embebeciam de ilusão
O coração que sofria.
Sofria por carência?
Por saudade?
Ou seria por amor?
Bem podia ser pelos três.

O coração se encantava pelo poeta
Que não sabia de sua existência.
Até que a doce roda do destino girou
Pondo frente -a-frente
Poeta e coração.

O coração palpitou.
O poeta suspirou.
Olharam-se,
Viram um espelho.
Um refletia o outro....
Perceberam que eram unos e,
Que nunca estiveram separados,
Apenas nunca se encontraram

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estrada

Faz algum tempo
Que eu descobri
A infam estrada ,
Na qual me dispus a caminhar.

Graças a você
Meus pés passaram a pisá-la.
E desde então
Não vejo outro caminho.

Desde sempre,
Meu intuiti não foi mudá-lo.
Apenas tinha a intenção
De fazê-lo crescer,
Fazê-lo perceber
Quão ignóbeis são seus pensamentos.

Mas você era e,
Continua sendo um soldado,
Que nunca evoluirá de patente
Se não evoluir de mente.

Tudo bem,
Eu compreendo a sua auto-afirmação,
Sua prepotência,
Seu egocentrismo,
Mas você mesmo
Não vê sentido em possui-los.

Você tem sempre tudo
Sobre controle.
Sempre possuía um planejamento,
E isso é mal.

Eu queria salvar-te
Do abismo que se apresentaria.
Por vezes eu quis lhe elucidar
As primícias básicas da fé.

Esperava que a minha fé
Na vida,
Nas pessoas,
Em Deus
Fizesse-lhe perceber
Que você não é e nem está sozinho.

Por isso que me pus a seu lado,
Que investi todas as minhas forças
Nessa estrada.
Pena que em vão.

A estrada é longa.
Tão massificante,
Tão deprimente.
Deveras fui tola
Ao pensar que faria
Algum avanço contigo.

Agora você está
Completamente abjeto,
Indiferente a essa estrada,
Enquanto eu estou
Perdidamente naufragada
Numa depressão que não deveria ser minha.

Tempo,tempo,tempo...

O tempo levou
Tão pouco tempo.
A mudança foi tão veloz e amarga,
Tão triste e cruel.

O destino depôs suas armas,
Os soldados desistiram do combate,
O amor arrependeu-se da luta.

O infinito foi um segundo,
Foi o momento mais cabal,
Foi vivido e sentido intensamente,
Mas não da devida forma.

-Será que existe forma devida para o amor?

Não há certo nem errado,
Mas agora,
Quando os corações estão martirizados,
Há o questionamento.
-Aquilo foi o melhor a ter ocorrido?
Foi apenas o que aconteceu.

Não foi da maneira que se desejava.
-Mas o mundo é injusto,meu amor?
O arrependimento insiste em emergir,
Por mais que seja repudiado.
No peito resiste aquela vontade
De tentar tudo de novo.

Mas o tempo se esvaiu
Pelos ralos do destino,
E o amor-próprio foi redescoberto,
É ele que elucida o dispêndio
De um amor em vão.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Indignação

Onde estão as pessoas?
Onde está a fé?
Onde está a voz?
Aquela voz que a pouco
Ressoava pelos quatro cantos
A exigir, a lutar.

Onde está a garra?
Onde está a coragem?
Onde está a juventude?
A juventude ,que não faz muito,
Lutava por seus ideais,
Mergulhava fundo na política
Exigindo o respeito por seus direitos,
Exigindo liberdade.

De que adianta
Vivermos hoje numa sociedade livre,
Fruto do protesto,da luta,
Do aniquilamento
De muitos no passado,
Se a consciência política do jovens
Esvai-se a cada dia.

A liberdade que muitos lutaram
E não conseguiram desfrutar,
Hoje é usada por aqueles
Que reprimiram,que mataram e matam.

E o capitalismo lança seus tentáculos
Sobre essa geração alienada,
Descrente da política,das pessoas, do mundo.
Satisfaz-se em consumir,
Em pensar apenas em si
Sem se preocupar em buscar
Um lugar melhor para seus filhos e netos.

Da janela

Da janela eu vejo o dia,
Vejo o meu amor passar gingando,
Mexendo,
Me chamando.

Mas eu não posso ir
Com o meu amor,
Pois ainda é cedo e,
Da janela eu tenho que ver o dia.

Na janela fiquei
E meu amor se foi.
Não sei se vai voltar,
Não sei se vai me amar.

Da janela eu vejo homens,
Mas não é o meu amor.
Meu amor partiu
E me desolou.

E agorana janela que estou
Bate um vento forte,
Que vai levando para o sempre
Os cacos do nosso findo amor.

7 Pecados

A leve brisa paralisante
Toca os cabelos do compositor,
Que da sua imóvel rede
Obtém do ócio a gota refinada
Da poesia da preguiça.

Batons e brincos,
Pulseira é rímeis
Pela cama espalhados
Num mar de futilidade,
Nadam entre as ondas da vaidade.

O que tem não quer,
Quer o que não tem.
Quer os bens,os amores
A vida de quem se julga melhor.
Nada consegue por si,
Que o dos outros,
Parasitária inveja.

Tanto tem
Nada dá.
Tudo para si,
Sem a mínima intenção de compartilhar.
Vai morrer sufocado em si mesmo,
Coração avarento.

Aos olhos enche,
À boca tranborda água.
Não se sacia com um pouco,
Quer sempre o excesso.
Vai morrer pela boca
Da venenosa gula.

Vira mesa,
Vira o jogo,
Joga-se tudo pelo ar.
De que adianta ser manso,
Se nas veias o que pulsa
É um sangue corroído pela ira.

Doce fel do prazer,
Infesta os corações e corpos
Dos pobres mortais,
Que se consomem
Nas fantasias quentes da luxúria.

Índio

Das selvagem matas
O guerreiro índio,
Nu em pelo,
Avança pelos sertões
Explorando terras,
Deflorando virgens,
Tirando sangue.

O jovem guerreiro
Desde a terna idade
Foi ensinado a ser forte,
Astuto,cruel.
Ensinado a não ter pena,
Pois seus inimigos
Não serão misericordiosos.

Mas está fatigado.
Essa vida de guerreiro
Não lhe dá mais prazer.
Matar,sangrar
Não faz mais sentido.

Ele quer uma mulher
A quem posso beijar,
Amar,possuir.
Uma mulher sua e somente sua,
Não mais a mulher alheia.
Não uma índia,
Essas sabem quem ele é.
Ele quer um branca,
Ou talvez uma nêga.
Que lhe dê carinho,amor
E um pouquinho de tesão.

Então o guerriro foge da aldeia,
Vai para a cidade,
Vira homem sério,
Do tipo homem branco,
Sem deixar de ser índio.
E arruma um preta que lhe faz cafuné,
E que nas noites de lua cheia
Faz festa na sua cama.

O passageiro

Adorável passageiro,
Transeunte de minha mente,
Viajante do destino,
Andarilho dos meus sonhos.

Percorre os corredores de minh'alma
Deixando em cada estação
Seu doce perfume,seu encanto,
Seu coração.

Estacionou em minha vida
Após inúmeras viajens frustadas,
No momento em que eu ansiava por um porto seguro.

Passeou por mim como quem passeia
Por um jardim florido,
Por uma prai num dia de sol.

Desfilou pro meus problemas,
Sendo a maioria das vezes
A causa e a própria solução.

Foi terminal de chegada
Da minha felicidade,
E o de partida
Da minha saudade.

E hoje me deparo nesta plataforma,
Onde vejo você embarcar
Numa viajem sem volta pra minha vida...

Anjo

Meu anjo adormecido
Tua face replandescente
Passeia pelas minhas ilusões,
Enchendo de magia os meus sonhos.

Fizeste história em meu passado.
Só Deus sabe o que há de ser em meu futuro.
Mas,hoje,sei que és minha dádiva,
Meu presente.

Andaste por todos os dias ao meu lado,
Carregando-me pela mão.
Como um verdadeiro anjo a guiar meus passos
És meu protetor.

Não és glorioso,nem majestoso,
Muito menos divino.
És de carne,és de osso.
És de alma,és de sangue.
Humano.

Se não és divino,
Então profano és.
Anjo do meu carnaval
Abre as alas do meu coração.

Não habitas a morada celestial,
Encontra um porto seguro em meus braços,
Onde placidamente descança
Livre de qualquer ameaça,
Por saber que comigo estás.

Noite de luar

Caminho sob a luz da Lua
Indecisa por onde seguir,
Perdida em meus descaminhos,
Tento te encontrar.

És tão vil e cruel
Arrebata-me,destrói-me,
Meu sangue pulsa por ti
E tu o bebe e se delicia.

Me entrego a tal êxtase
Como Santa Tereza ao
Anjo incandescente.

Seu hálito quente e doce
Sussurra em meus ouvidos
Palavras flamejantes
Que como chamas,
Consomem -me por dentro.

Sinto minh'alma deixar o corpo
E ir de encontro à tua.
Meu sangue se esvai em minhas veias,
E tu sorri-me com tal prazer
Vendo minha agonia.

Não sei porquê me deixei levar,
Mas não consigo me arrepender,
Pois tu,vampiro insano,
Proporcionou-me imenso prazer

E no vazio são as máquinas

Às vezes tudo parece tão inútil,
Dispendioso e banal.
Constantes lutas são travadas
Por nada,culminando no mesmo nada.

E neste jogo
Perdem-se dinheiro,vidas,
Amigos e amores.
Transformaram-se em coisas frívolas,
Desprovidas do calor do sentido.

Enontra-se aquele vazio opressor
Em todas as partes.
Aquele aperto no peito,
Desesperado por um alento,
Impulsionando novamente ao nada.

Veem-se homens,mulheres...
Veem-se crianças brincando despreocupadas.
Todos sofrem em seus sonhos calados,
São angústias sufocadas pelo
Desprazer da aparente felicidade.

Vive-se perdido em livro infinitos,
Aprisionados em infindáveis páginas
Da Tragiomédia do Criador
Pervertida pela compulsão doentia do homem.

A indecisão é constante,
Até naqueles que julgam-se decididos.
É um movimento orgânico
Da condição humana.

O coração é um grande imbecil,
Irracional,sentimentalóide barato!
Persiste nas coisas mais absurdas,
Mais crucificantes e desnecessárias.

É com tamanho pesar,
Que deve-se afastar
Das coisas que se ama,
Que,de alguma maneira,merecem
Ser protegidas ,
Para que a clareza de pensamento
Retorne a fluir.

Homens não são máquinas.
Organismos não são engrenagens.
Pode existir um tremendo vazio,
Mas a vida não é frígida o bastante
Para ser mecanicista.

Minha fortaleza de argila

Homens devem ter o físico forte,
Mulheres devem ter o espírito forte,
O ser humano deve ser forte
Para enfrentar as intempéries da existencia.

Desde a terna idade
Disseram-me:
-Pare de chorar,assim você não resolve nada.
Definitivamente não.
Mas é carente em mim, a força.
As lágrimas sempre são mais fortes,
Sempre vencem a guerra contra os olhos.

Quando não tinha a evolução de hoje,
Poderia até dizer que era forte;
Mas,às vezes,parece que conforme se cresce,
Mais vulnerável e fraco se fica.

Nm sempre a vida vai lhe sorrir com a sorte.
-e o que resta?
Ser forte...ser sempre forte.

Uma fortaleza é sempre fria,
Por mais que em seu entorno
Existam tochas de fogo.
Elas são construídas de pederas fortes,
Que resistem a investida do tempo,
Do vento,das águas.

As minhas pedras são de argila,
Delicadas e frágeis.
Ao menor toque despencam;
A menor investida da chuva desfazem -se.

Ao fim de cada tribulação
Tenho sempre o mesmo fim,
O mar...salgado mar...
Que frequentemente costumo me afogar....

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Frio Inverno

Ventos secos do inverno,

Chuvas frias,

Gotas molhando a janela do quarto.

O som do rádio é alto,

Ela emite a voz esganiçada

Do cantor em “November Rain” e,

Ela alheia tudo

Com o “o Nome da Rosa” nas mãos.

Faz horas que ouve repetidamente

November Rain”,

Já chorou tanto

Que não lhe restam mais lágrimas.

Desistiu de ler,

Quer apenas que essa dor cesse,

Mas não,ela não se vai.

Fica atordoando-a.

Vai levá-la a loucura.

Muitas vezes já gritou:

-a dor é excitante!

Compulsão maníaco-masoquista...

Agora nada é tão mais prazeroso.

A dor é venerável desde que

Não haja lágrimas.

Ela deseja partir,

Não possui forças.

Deseja gritar

Não possui voz.

Muda a música no rádio,

Agora é “A Tout Le Monde”.

Sempre repudiou Metal,

Agora,no desespero,é bem acolhedor.

A voz que canta o suicídio

Ecoa em sua mente.

É agradável.

As lágrimas voltaram...

Pega caneta e papel,escreve:

-“A todo mundo,

A todos os meus amigos,

Eu vos amo,

Mas tenho que partir.”

No rádio a música mudou

Para “Last Kiss”.

Ele se foi...

Não como na canção,

Mas tiveram um último beijo,

Uma última noite.

Deveras,jamais o teria novamente.

Vozes sussurram em seus ouvidos:

-vá,vá...a luz te espera!

Tem tanto medo.

Deseja findar o sofrimento,

Mas não quer ir,

Não quer que os que ama chorem.

A casa está vazia;

Vai até o banheiro;

Liga a torneira e

Enche de água a banheira.

A campainha toca,

Vai até a porta,

É ele.

Ele sabe o que está passando,

Tem medo de perdê-la,

Tenta inutilmente detê-la.

O pequeno canivete,

Com “Clarisse” no rádio,

Faz incisões naquele corpo

Que um dia foi seu.

Ele se foi ,de fato,para longe.

Não há mãe,

Não há irmãos,

O pai superará.

Nada mais a impede.

Pega um poema

De Alvarez de Azevedo.

Suas palavras de adolescente

São semelhantes a do poeta.

-os poetas morrem jovens!

Volta ao quarto.

A voz de Eric Clapton

Sai do rádio em “Tears in Heaven”.

A mãe…no céu

Ele...seu céu de “sky” e o céu de “heaven”.

A água da banheira é fria,

Mais fria que a água da chuva.

O metal nos pulsos.

O sangue esquenta a água.

Submerge na água com sangue,

Vê o tempo passar,

O mundo girar,

O ar deixar seus pulmões.

Os fantasmas do torpor vem chamá-la,

Tudo é alucinação,

Os anjos a carregam pelas mãos e,

O véu da morte lhe abraça.

Traga-me...

Traga-me de volta
A alegria de viver
Que desde então se esvaiu
Pelos ralos do falso desejo.

Traga-me de volta
O brillo no olha,
Ao deparae-me com as pequenas coisas,
Coisas singelas e sutis.

Traga-me de volta
A tranquilidade que se foi
Juntamente ao bater
Da porta do meu coração.

Traga-me de volta
A inocência que perdi
Ao deixar-me levar
Por suas controversas pretenções,
Que eram quase como alucinação.

Traga-me de volta
A docilidade com que me relacionava
Com os queridos.

Traga-me de volta
A paz de espírito,
Que foi levada
Por suas perturbações.

Traga-me de volta
Meu verdadeiro eu,
Que foi mutado e mutilado
Por sua obsessão.

Leve...

Já é tarde...
A chuva já se foi...
Você pode ir também.
Pode levar todas as suas lembranças,
Seus resquícios de algum dia.

Leve embora daqui
A compulsiva tristeza
Que se abateu sobre mim,
Quando me envolveu
Com seu desejo negativista e pervertido.

Leve embora daqui
A descrença,o pessimismo
Que promoveu
O encobrimento dos sonhos do meu amanhã.

Leve embora daqui
A opacidade promovida
Pelas minhas lágrimas,
Água salgada gasta em vão,
Por motivos nem um pouco banais.
Leve embora daqui
A arrogância
De tua personalidade,
Que quase como herança
[ou carma;
Foi prendendo meu espírito livre.

Leve embora daqui
A perversão que a cada dia
Corrompe-me mais e mais,
Assasinando a minha plenitude sexual.

Leve embora daqui
Esse gelo que vai congelando aos poucos
O meu coração que outrora
Foi pura brasa.

Leve embora daqui
Os seus fantasmas
Que passam o dia a me vigiar,
Que a cada dia insistem
Em me perturbar.

Leve embora daqui
Essa pessoa fria,
Malévola e vingativa,
Depressiva,
Perturbada e maníaco-sexual
Que se apossou de mim.

Homem na Lua

O homem,
Cansado de sua vida na Terra,
Engalfinha-se num foguete
Para a Lua.

Tantas noites passou
A admirar a distante
E remota Lua,
Aspirando um dia
Pisar em seu solo.
Ser seu rei e senhor.

Numa disputa internacional,
Em que o primeiro que chegar à Lua
É o vencedor,
Vorazmente constroem-se
Foguetes e ônibus espaciais.

Sob o signo da "Águia"
O homem despede-se da Terra,
Sem a menor saudade,
E ruma à Lua.

Desce da nave.
Pisa na Lua.
Sente a falta da gravidade.
Voa.
É livre.

Anda na Lua.
Cheira seu solo.
Contempla a placidez do inóspito.
Da liberdade vem o vazio.

Na Lua tudo é vazio!
Então o homem sente-se só,
Sente falta dos amigos na Terra,
Da movimentação desta.

Finca a bandeira de sua pátria,
Já não tão amada e,
Olha ao redor
A escuridão,
O vácuo celeste,
A imensidão.

Vê ao longe
[mas não tão longe;
Uma das várias esferas
Que povoam o infinito.
Ele pasma-se de tanto encantamento,
E num urro:
"A TERRA É AZUL!"

Foi mero passo de homem
Que possibilitou "o" imenso passo
Da humanidade.

Mas o homem,
[apesar de encantado com a Lua;
Quer enlouquecidamente
Voltar a Terra,
Para caminhar sob
A ação da gravidade.

Abscuridão

Flor desnuda
Que pende das epífitas
E cai na relva
Dos sonhos desencantados,
Despertando do sono eterno
Os amantes indecentes de outubro.

Febrilmente os amantes
Entregaram-se a um fogo
Sem propulsão cabal,
Trucidando o pudor de outrem.

Na relva banhada
Pelo frio orvalho de julho,
Germinou a pimenta do desejo.
Então,em outubro,
A pimenteira já era imensa.
De tão vermelha
Equivalia a uma fogueira.

A rubra pimenteira
Escorreu até um leito de tesão,
Ardendo como o fogo do
Juízo Final.

Consumiram-se como drogas,
Avistando o abismo da perfeição.
Cega virilidade
Que desponta abaixo da
Linha do Equador,
Induzindo a derrocada de inocência.

Cândida inocência
Partiu sem deixar lembrança,
Numa dicotomia infindável
Que leva a perversão.