Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 18 de abril de 2010

POR AMANDA SEREJO

Na minha solitude,
Abandonada pelo divino
E com a aura pueril exalando
Todas as substancias que perfumam e intoxicam
O céu e o inferno de teu espírito.
Lembranças de outrora e do futuro,
Que ainda escolhia sua indumentária para se tornar o presente,
Deixaram de arfar e gargalharam.
Ele havia retornado


Reencontrou-me e esculpira
A eternidade de um dia .
Obra exposta apenas ao criador e á sua inspiração
O põr do sol brilhou,
Surpresa já vista.

A noite regressara.
Agora se prostituía,
Nua e crua,
Sem o amor da lua e das estrelas

Fui obrigada a mirar
A reprodução da deficiente e injusta
Perfeição de Deus.
Os efeitos foram tão arrebatadores como da original.

A escultura mais veraz havia sido desfeita
Para tornar-se a cópia de um espelho.
Esqueci-me que há poucas viagens
Que não necessitam de volta

Nas bagagens,
A riqueza roubada de uma andarilha.
Percebi mais tarde que ele não poupara nada

A minha morada individual pertencente
Ao abrigo do Desespero e da Força
Não estava mais lá.
Único e pioneiro tornastes
Ao levar as minhas trevas

Não consigo te odiar
E o antônimo deste belo verbo
Parece que significa um deus imortal.
No dicionário cotidiano em que busco
Compreender o infinito
Mas a ignorância não me permite
A aprender a destruí-lo

A iluminação ambígua próxima da consciência ,
Tentei apagar com a verdadeira escuridão.
A inutilidade das laminas e seu triângulo amoroso...
Naquele dia resolveu fazer amor com a Vida.
Não consegui arrombar as portas da morte

Líquidos de um corvo jorraram sobre a mente
Para fingir bonança.
Resultados inesperados.

Hoje há chamas...
Fogo e sangue pela compleição dela.
Acho que são os alicerces modernos de uma nova construção

Porém,os dias passam
Á velocidade da redenção de um anjo caído,
Apesar dos controles que os humanos colocaram na Esperança
Dizerem que é um tanto longo
Já vi que andou rápido até mesmo para estes malditos calendários.

Nova visita ao antigo
Acabo de reler o livro da nossa
Pequena e intensa história.
Fora profético em tudo:
Do sol irradiado no passado,
Ás tempestades ininterruptas do presente.
Estados meteorológicos que meus olhos passaram
Após a tua volta.
E a ingenuidade do autor permanece
Continua a crer que seus personagens
São dogmas da sua rica imaginação

Continuará a dar passos
Você sobrevive, eu não
O destino quis assim !

A musa transformada na própria arte...
A matéria prima das estátuas
É o vazio,o último estágio da realidade

Teus sentidos irão te adular,
Baseando-se no reflexo do fim,
Que de fato é a liberdade,
Mas irá tua alma alegremente tormentar-se em breve.
Com minha proximidade


Planos de existência da mesma categoria
Dificilmente unem amores eternos

POETRY TRISTESS (Por Amanda Serejo)

Noite cálida primaveril
Que trazem flores
Mas na alma
É apenas um deserto,
De uma permanencia instável
Do glacial e abiótico

Vozes etéreas de lá,
Realidade tateante,
Preservam a neve das lembranças
E consequentemente
A nevasca da culpa e da confusão

Oh noite!
Ah se voce trouxesse
O elo de meu espírito novamente
Da qual o sol homicida
De um dia o levou

Hoje eu vejo tuas estrelas
Jóias , não mais de diamantes
Mas de um velho cristal opaco e antigo
Que enfeitam tua nua treva

Sinto falta dela
A Lua do fim do inverno
Tão cheia como o sentimento de meu coração

Já estamos
No escorpião de novembro
E ela não esperou
Beber do veneno dele,
Que como eu,
Se suicidou por amar
Alguém demasiado luminoso e ofuscante
para as retinas esperançosas de um amor cego

MENINA QUE TANTAS VEZES

Menina que tantas vezes
Fiz chorar,
Só para ver a cascata de lagrimas
E ter a certeza de vinhas para meus braços.

Menina que tantas vezes
Quis beijar,
Mas que fugia para me tentar,
Para depois correndo voltar.

Menina que tantas vezes
Quis amar,
Acreditando que eras minha,
Mas eras mais que minha,
E eu não teu o suficiente.

Menina que tantas vezes
Fiz mentir,
Esconder seus reais desejos,
Suas memórias de fatos marcantes,
Seja para mim quanto para Deus e o mundo.

Menina que tantas vezes
Vi falar com o brilho no olhar
“Quando crescer vou casar com você!”,
Mas eu mesmo não cresci,
E vi o brilho se apagar.

Menina que tantas vezes
Fiz mal,
Saiba que não foi por mal,
Foi por não saber
O que eras pra mim.

DAS ESTAÇÕES

Para cada estação
Há uma parada.
Se não houvesse
Os ciclos não se concluiriam.

A vida corre pelas janelas da alma,
Passa a nossos olhos
Invisível ou sensível ao tato.

Passamos, pois,
Por diversas paisagens,
Estradas e trilhas;
A bordo dos veículos
Que o destino nos concede,
Quase sempre com a desesperadora
Pressa dos que andam com a angustia.

Então aparecem as estações,
E com elas o alívio
De descer do veículo que nos transporta
E respirar sem pressa,
Sem medo nem dor.

Deixamos de lado,
A cada parada,
Os pesos que nos fazem doer as costas,
Que fazem da vida uma empreitada maçante.

As paradas são como
Pontos finais de uma oração;
Encerram um pensamento,
Sem, no entanto, encerrar uma idéia maior.

Para Cristo as doze estações
Trouxeram-lhe a morte;
Não foram alivio dos tormentos,
Foram a consolidação dos mesmos.

De tortura e dor
São as estações da minha vida.
Sempre que nas paradas do trem do meu destino,
Eu não findo um ciclo;
Ponho-me a te buscar,
Mesmo sabendo que não vais voltar.

MAIS QUE A QUALQUER UM

Eu pensei que um dia
Fossemos um em vez de dois;
Que fugiríamos para longe,
Longe dos problemas,
Dos olhares,
De tudo.

Pensei que um dia,
Andaríamos de mãos dadas
Em direção ao infinito;
Que cada segundo da nossa caminhada
Fosse mais que um instante...

Pensei que um dia
A noite não me trouxesse as lagrimas,
Por ter a ti,
A teu corpo e calor
A velar meu sonho
E resguardar-me de meus medos.

Sonhei que você
Era o alguém
Destinado a mim desde a eternidade,
E que juntos nada separaria.

Sonhei que todas as trilhas
Convergiam em um mesmo recanto,
Com uma cama quente,
A paz necessária
E um violão.

Sonhei que de todos os beijos
Seriam os seus os mais ansiados,
E guardados com mais ternura
Em um lugar especial em meu coração.

Sonhei que você
Seria o homem da minha vida,
O que eu dividiria os anseios,
Suspiros e caricias,
E que me concederia os filhos mais lindos.

Foi então que eu descobri
Que eu te amo
Mais do que a qualquer um,
E nada mais importa.

NAS ALMAS

Pode ser que o infinito
Não dure para sempre,
Bem como ele pode ser um segundo.

Pode ser que seja
A mais completa descrição do Universo;
Das tramas que o destino
Em cama de seda tece
Enlaçando as mais improváveis situações.

Na eternidade o destino é traçado;
As almas recebem suas missões,
Condenadas à algum à alguém.
Todavia, nem toda condenação é onerosa,
A minha é doce,
Sem nunca deixar de ser infinita.

O Ente Supremo
Concedeu-me belos enlaces,
Com encantadores seres
Para que fosse deles a minha vida,
Que finita e vazia seria
Sem o calor destes corações.