Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 18 de abril de 2010

DAS ESTAÇÕES

Para cada estação
Há uma parada.
Se não houvesse
Os ciclos não se concluiriam.

A vida corre pelas janelas da alma,
Passa a nossos olhos
Invisível ou sensível ao tato.

Passamos, pois,
Por diversas paisagens,
Estradas e trilhas;
A bordo dos veículos
Que o destino nos concede,
Quase sempre com a desesperadora
Pressa dos que andam com a angustia.

Então aparecem as estações,
E com elas o alívio
De descer do veículo que nos transporta
E respirar sem pressa,
Sem medo nem dor.

Deixamos de lado,
A cada parada,
Os pesos que nos fazem doer as costas,
Que fazem da vida uma empreitada maçante.

As paradas são como
Pontos finais de uma oração;
Encerram um pensamento,
Sem, no entanto, encerrar uma idéia maior.

Para Cristo as doze estações
Trouxeram-lhe a morte;
Não foram alivio dos tormentos,
Foram a consolidação dos mesmos.

De tortura e dor
São as estações da minha vida.
Sempre que nas paradas do trem do meu destino,
Eu não findo um ciclo;
Ponho-me a te buscar,
Mesmo sabendo que não vais voltar.

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