Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ICE QUEEN

Imponente dama
Das inóspitas terras siberianas,
Qual o teu veneno?
O que escondes por trás deste olhar de pintura?

Luxuriosa volúpia
Que inflama-se na busca pelo utópico,
Negando e embebedando-se
Dos furtivos desejos mundanos.

Intocavelmente resoluta,
Auto-suficiente de mente,de caráter.
Relega aos reles mortais
A satisfação de seus mandados.

Encantadoramente desencantada
Com as pessoas que lhe servem,
De bom grado e admiração;
De obrigação e desprezo.

Tirana rainha
Que perde aos poucos a soberania,
Paulatinamente pela frieza glacial.

Inabalável de emoção.
Majestoso livro trancado
De inebriantes paginas negras inacabadas.

-Nobre Rainha gelada,
Seu frio não é volúvel,
Filho do vento;
É seu coração que há muito
Cansou-se de palpitar e ser repudiado.

-Sua indiferença
Fê-lo congelar,
Transfigurando o fogo do amor
Em seu mais malévolo oposto,
O gelo do desprezo.

É À NOITE

É à noite ...
Sempre à noite...
Que tudo o que me faz falta
Toma corpo.

É à noite
Que a solidão vem assolar,
Carregada pelos braços da saudade,
No colo da tristeza.

É à noite
Que eu não consigo dormir.
O meu espírito não se aquieta,
Meus olhos não se pregam.

É á noite
Que perco meu tempo
Na maldita Internet,
Buscando sabe-se lá o que.

É à noite
Que ouço repetida e
Excessivamente as mesmas músicas.
Com a intenção de esquecer
Alguém que não me canso de lembrar.

É à noite
Que ponho-me compulsivamente
A compor.
Diversas vezes o papel
Fica recoberto por lágrimas,
Outras por suspiros de recordações.

É à noite
Que arrebento meus dedos
Nas vorazes cordas de um violão,
Chorando todas as dores e mágoas.

É à noite
Que faz de tudo mais frio...

UM AMIGO

Quero um amigo,
Que nas tardes de solidão
Converse comigo,
Acalente-me nos momentos de tristeza;
Que me conceda um olhar cúmplice
Quando eu precisar de coragem.

Quero um amigo,
Que converse comigo pelo telefone
Por horas infindáveis;
Que me abrace quando eu não pedir;
Que me aconchegue em seu peito.

Quero um amigo,
Que passeie de mãos dadas
Por um campo florido,
Ou pelas minhas ilusões;
Que me empreste seu ombro para eu chorar;
Que fique acordado comigo
Até as altas da madrugada;
Que compartilhe comigo
Suas alegrias e tristezas,
Esperanças e decepções.

Quero um amigo,
Não um amigo qualquer.
Um amigo a quem eu possa amar,
Mas não com o amor de amigo,
Amor de homem e mulher.

Um amigo a quem eu possa chamar de meu amor.

ADEUS II

Não sei como deixei
As coisas chegarem a este ponto.
Não sei onde errei.
Não sei como tudo pelo qual sempre lutei
Desmoronou sem mais nem menos.

Foi por você que meu coração
Bateu mais forte durante esses meses.
Foi você que me fez me levantar todos os dias,
Para ir à uma luta,no qual eu já havia perdido.
Foi você o motivo das minhas maiores alegrias
Depois de tudo que aconteceu.
Foi você também a minha maior tristeza.

Enquanto eu doava tudo de mim,
Você pouco se importava.
Até gostava de ver minha humilhação.

Desde o inicio todos diziam
Que isto não era certo,
Mas eu te amava cegamente.
Agora minhas vendas caíram,
E minhas ilusões contigo
Foram completamente destruídas.

Agradeço-te por tudo
Que fizeste por mim em tuas mentiras.
Peço-te perdão também
Por não conceder-te uma chance,
Pois se concedesse não estaria sendo sincera,
Não demonstraria o quanto te amo.

Só com o adeus
Você verá o quanto realmente te ame

À MINHA AMADA

Costumavas dar-me beijos
Todas as noites
Antes de dormir.

Com tuas mãos suaves
Acariciavas meus cabelos,
Minha face e,
Deitavas a meu lado.

Velavas meu sono
Como um guardião
Vela um grande tesouro,
Seu tesouro.

Desperto sobressaltada
De meu sono e,
Não estás mais a meu lado.
Onde fostes pela madrugada?

Percorro os corredores da casa,
Como um zumbi e
Nada de tua presença.
-será que fostes embora?

Abro a porta,
Desço as escadas,
Alcanço a rua buscando-te gritando:
-onde estás amada minha?

Chego a avenida principal,
Deparo-me com um cortejo fúnebre.
Abro caminho entre as pessoas,
Para identificar o falecido.
Completo desespero.
-é a amada minha!

E os anjos a levaram pelas mãos...