Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

sábado, 22 de agosto de 2009

Minha terra tem palmeiras

Minha terra tem palmeiras
Onde não canta o sabiá.
O sabiá foi extinto.

Minha terra tem palmeiras
Onde não canta o sabiá.
O sabiá que foi extinto
Teve seu habitat roubado.

Minha terra tem palmeiras
Onde não canta o sabiá.
O sabiá que foi extinto
Perdeu seu habitat
Para construirem shopping
Para gringo gastar.

O sabiá,ave do Brasil
Perdeu seu lugar
Para o capitalismo vil,
Que derrubou,sufocou,matou
Seu lar,seu ar e o próprio sabiá.

NÃO DÁ PARA NAMORAR

Não dá mais para namorar!
Não há como devanear,
A noite sob o luar,
Com teu amor a acompanhar.

Não dá mais para namorar!
É difícil encontar
Quem se possa o coração confiar.
Tudo é um tal de jogar
Palavras,sentimentos,beijos ao ar.

Não dá mais para namorar!
É melhor várias somas formar,
Do que a qualquer um se entregar,
Para numa cama vazia se por a chorar.

CACHOEIRA

O véu d'água cobre
A copa verdejante das árvores,
As marquizes dos arranha-céus.
Cobre também teu belo rosto
A destacar na multidão.

Majestosa água que do céu desce
Para formar rios.
Encantador tintilar de águas ,
Que correm apressadas
Para o desconhecido.

Deixo-me fluir pelos rios
De águas incandescentes,
Dessa paixão indecente,
Sem o medo de ao final
Deparar-me com uma cachoeira.

URUBU

Urubu,urubu!
Venha até mim,urubu!
Poupe-me de tanto sofrimento,
Arranque-me este coração,urubu!
Coração assassinado por amor.

Bendito urubu!
Maravilhoso és tu!
Corrói a podridão da alma,
Satisfazendo-te imensamente!

MEUS VERSOS

Meus versos são como
O canto do vento,
Como o dançar dos girassóis.

Meus versos são cheios de magia,
Da magia da minha tristeza.

Meus versos tem ar de consolo,
De cansaço,
De um coração arrasado!

CHEQUE-MATE

A rainha há muito vagava
Procurando um peão,
Mas eis que encontra um cavalo,
Que como se fosse alado
Materializa-se no tabuleiro de seu coração.

Antes do cavalo entar em sua vida,
A rainha era negra,viva,humana.
Mal poderia imaginar
Que seu futuro fosse o completo avesso
A suas pretenções.
Que seu cavalo fosse um vampiro.

Mas o cavalo é inatingível,
Impossível mesmo para a magnânima rainha,
Que vai em busca de um peão,
Sem muito em especial.

Mas a pobre rainha estava enganada.
O cavalo a quer,
Mas não da maneira que ela imaginava.
Ele quer seu sangue,sua vida.
Sua ira é esplendorosa,
Ninguém pode tocar sua rainha,
E como ousa um peão corrompê-la.
Pobre peão...tão fraco,tão vulnerável e mortal.
Facilmente é escorraçado da vida da rainha.

Eis que o cavalo obtém seu troféu,
Sua vítima,
E a rainha seu maior sonho.
A sede do vampiro se esvai,
Não quer mais o sangue de sua rainha,
Quer seu coração,
Sua alma,
Seu amor.

Antes de tudo é necessário
Que se rompa com a barreira
Que norteia o mortal e o imortal.
Tem que embranquecer sua rainha
Com seu beijo de vampiro,
Para enfim viver por todo o sempre.

PALAVRAS

Um dia
Um poeta do acaso
Manipulou palavras,
Argumentou atos,
Traduziu olhares.

Usou da magia de papel e caneta
Para alimentar os sentimentos
De um sensível coração.

As palavras do poeta
Embebeciam de ilusão
O coração que sofria.
Sofria por carência?
Por saudade?
Ou seria por amor?
Bem podia ser pelos três.

O coração se encantava pelo poeta
Que não sabia de sua existência.
Até que a doce roda do destino girou
Pondo frente -a-frente
Poeta e coração.

O coração palpitou.
O poeta suspirou.
Olharam-se,
Viram um espelho.
Um refletia o outro....
Perceberam que eram unos e,
Que nunca estiveram separados,
Apenas nunca se encontraram