Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

DONAS

Dona dos olhos de gueixas,
Dos lábios de lótus,
Dos cabelos de véu tempestuoso.

Dama dos sonhos
Perdidos de outrora,
Pelo badalar dos sinos da abadia do destino.

Senhora alheia ao
Desalento dos rebentos,
Que choram e gemem
Implorando atenção.

Princesa sádica e doentia,
Que perverte as coisas tão mais lindas
Com o balançar dos seus leques de escarlate sangue,
Numa alusão a afiada adaga dos samurais.

Infanta perversa,
Cuja inocência é corrompida
Pelo veneno da maldade,
Que lhe foi dado junto ao leite materno.

Tirana imponente
De poderio inalcançável,
Que não deixa-se tocar de modo algum,
Nem pelo mais honroso dos homens da Terra.

Feiticeira de magias e poções,
De encantos e posições
Ardilosas como os encantos das Arábias.

Mulheres unas,
Distintas em suas circunstancias,
Que perfazem os imaginário e,
No anonimato,fazem o mundo tal como é.
[apesar de não ser o que é visto]

TALENTOS

Mágicos e suas magias,
Truques ilusionistas que
Mascaram o real recobrindo,
De terna ilusão,
O cândido coração das crianças.

Filósofos e a dialética,
Sofistas não declarados,
Cujo poder de retórica
É inebriante bebida que degustam sem embriagar-se,
Sem,no entanto,deixar de embriagar.

Professores e o ensino,
Mestres edificadores de uma sociedade
Que é corroborada pelos contínuos e mutualisticos
Fluxos de aprendizado.

Artistas e suas artes,
Por vezes ocultas,
Por outras, reluzente brilho de esperança
Ao desalento cotidiano,
Como o soar estridente dos acordes de uma guitarra.

Poetas e a poesia
Da qual consomem e são consumidos,
Quando entregues ao doce e plácido
Lago das idéias,da imaginação.

Profetas sem fama,
Cujas palavras guardam alíquotas
De um possível futuro
No destroçados rabiscos do presente.

Apenas homens...
Repletos de deficiências e contradições,
Que encontraram o diferencial de suas realidades paralelas
Através da expressão de seus talentos.

sábado, 24 de outubro de 2009

(MINHAS)forças da natureza

Entidades...
Elementos supra-humanos...
Volúpias...
Forças da natureza...

Mulheres com forma de rios,
Que oscilam em periodos
De doce riacho a
De temerosos rios de morte.

Pororocas,
Encontros de águas,
Fusão de rios rumo ao mar.
Mar de calmaria,
Mar revolto de tempestade... Maremotos.

Chuva como torrente de lagrimas,
Força de destruição
Intrínseca a dádiva.
Cândida garoa,
Cruel tempestade com raios de fogo.

Mago da névoa,
Suicida de outrem,
Diáfano como a fumaça
Do cachimbo do abolicionista.

Filho do vento,
Rebento da energia
Que circula com sua invisibilidade
Carregando a matéria dos gases.

Albinos gelos do Ártico,
Mutáveis e voláteis,
De rígida superfície
Que paulatinamente se queima e derrete
Com os raios tímidos do Sol da primavera,
Mas sem nunca atingirem os gelos eternos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando o guerreiro abandona a deusa

Meu altivo guerreiro,
Prepúcio de tempestade,
Fumaça da piteira das cortesãs.

Mais uma batalha vitoriosa!
Venceste a morte
No seio latente da vida.
Venceste o imprevisto,
As intempéries com o rasgar do véu
Por teu sabre,teu fuzil.

Na aurora deste novo dia,
Quizá será vencedor?

Na escola do tempo,
Nos saberes do mundo
Vitórias e derrotas são pontos de vista.
Mas fato é,
Que apenas vence os de coragem
Desprovidos da preguiça.

Meu jovem...meu amo,
És bravo,ousado...
Emanas a coragem.
Longe da perfeição,
Da idealização do vento,
Pecas pela preguiça.

Eis que desembainho uma flor
Matando-te a meus pés.
Rendido?
Jamais!
Cansado?
Sabe-se lá?

Quando fores general,
Quando houver caminhado
Pelos vales negros e pelas campinas floridas,
Compreenderás a dimensão além do rosa e gay.

Verás as sombras,
Que conhecestes por trás
Dos olhos de águia,
Cujas lágrimas verteram as cataratas
De um mundo mais sombrio,
Que sua vã filosofia suporta.

Desprenda-te desta figura miserável,
Desfigure esta máscara de horror
Que aprisiona teus belos olhos.
Reluza o diamante ,
Que um dia o garimpo do destino,
Pós nas mãos da deusa
Que o lapidou,
Que o enriqueceu,
Que o partiu,
Por mais que apenas uma lasca seja visível.

A deusa está deitada...
Num leito de morte?
Nupcial?
Vá vê-la!

Esqueceste que abriste
O livro proibido da vida e,
Que bebericaste dele junto dela?
Não podes fugir...
Não podes estar preso...
Então não a prenda,
Não a deixe esperando agonizante.

Sigas para o lago,
Traga da mais doce água para ela.
Meu guerreiro,
Você é o único...
Indubitavelmente e inesquecivelmente o único...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Audhumla


pequeno pedaço da ilusão dos meus dias,
recanto deserto,
deposto do pudor mais óbvio,
lancinante olhar de gueixa do sul japonês.

desencanto que bateu à minha porta
recolhendo o pesar despedido de outrem.
reluzente partícula do amanhã que avultua
com a inocência maliciosa
das meretrizes do mundo.

transluzente dumbo
que embebeda-se nas montanhas
alpinas albinas recobertas pela fuligem do chocolate. (leia-se "o peeeeito da juliana")

anjo nefilin que decaiu
sabe-se lá de que ponto do Heaven
de um Eric que cansou-se de seu Tears.

livro de suspense ,
cujas páginas negras
trancam sua incoerência
nos abismos abissais
dos peixes leoninos.

minha volupia gelada,
força dos tornados do norte,
devasta os negros corações
dos almirantes de grande leme.

finde-se o dia,
emerja a noite,
mas não retire-a de minha companhia....

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

REFLEXÕES SOBRE ELE - PARTE 2

Reflexões sobre ele -parte 2

Ele mostra-se tão indiferente
Quando devaneio,
Quando me aventuro
Pelas mais ternas ilusões.

Ele mostra-se tão indiferente
Quando minhas expectativas
Ultrapassam o limite da sanidade e,
Os medos tomam conta.

Ele mostra-se tão indiferente
Quando a o meu ponto de vista
Diverge da sua concepção de mundo.

Ele mostra-se tão indiferente
Quando as flores,seus aromas,
Suas cores e beleza
Encantam-me singelamente.

Ele mostra-se tão indiferente
Quando a minha fé
No mundo,nas pessoas,
Nele próprio,
É demasiada grande,
Gerando minhas frustrações.

Ele mostra-se tão indiferente
Quando eu lhe digo
Que suas verdades não são absolutas e
Suas opiniões são controversas demais.

Ele mostra-se tão indiferente
Quando eu lhe digo
-Eu te amo!
Apesar de saber que
Nos confins de seu coração
Ele também me ama.

sábado, 10 de outubro de 2009

MULHER,MULHER,MULHER

Doces moças,
Levianas e cândidas,
Inocentes donzelas que povoam os sonhos.

Damas senhoris,
Meretrizes acrobáticas,
Enigmáticas princesas do imaginário masculino.

Mulheres do Oriente,
Submissas, oprimidas.
Almas livres,
Caladas por trás do véu.

Gladiadoras da globalização,
Fênix independente,
Como lareiras crepitantes de insaciável combustível.

Ninfetas ingênuas,
Deusas de uma sabedoria oculta,
Que ensandecem os petizes iniciantes
E os amantes à moda antiga.

Ninfas encantadas
Com suas poções e olhos mágicos,
Toques vibrantes malabarizam o contente membro.

Fortalezas reprimidas,
Desejos recolhidos,
Inflexíveis ao romper a barreira de epiderme.

Volúpias volúveis,
Efêmeras sem razão,
Paixão... Fulgor.

Criatura divina
Moldada a barro e a fogo,
Forjada no âmago do amor.
MULHER,MULHER,MULHER.

REFLEXÕES SOBRE ELE -PARTE 1

Ele parece não me ouvir,
Quando partilho
As mais singelas trivialidades.

Ele parece não me ouvir,
Quando as alucinações
Sucumbem a racionalidade.

Ele parece não me ouvir,
Quando mergulho em agonia,
Dividida entre anseios e receios.

Ele parece não me ouvir,
Quando minha boca
Transborda paixões funestas.

Ele parece não me ouvir,
Quando as ilusões são fortalezas intransponíveis ,
Complexas,conturbadas e maravilhosamente desejadas.

Ele parece não me ouvir,
Quando ignoro suas palavras,
Trilhando um caminho em oposição
A seguridade de seus braços.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O VOO DA FRAGATA

Voa velha fragata,
Vá ser livre!
Libere-te de tuas amarras,
Alce teu vôo puro.

Voa velha fragata,
Para além mar!
Longe de teu cativeiro,
Onde não sejas subjugada
Por teus algozes.

Voa velha fragata,
Levanta-te do leito de angustia!
Mergulhe no mar de paz,
Esqueças de toda a tristeza.

Voa velha fragata,
Desprenda de teus olhos
As mais salgadas das lagrimas,
Fazendo chover no sertão.

Voa velha fragata,
Não tenhas medo de chorar!
Inundes as planícies Amazônicas.

Voa velha fragata,
Mas não esqueças
De levar contigo
Meu amargo coração.

AS METADES

Uma metade
Da minha família perdeu-se.
Foi a metade mais pura,
E a mais bonita.

A realidade
É o mais longo sonho,
Que eu poderia estar sonhando.

Se consolidou como sendo
Muito mais que mero sonho.
Um cruel e distorcido
Pesadelo interminável,
Que paulatinamente dilacera
As minúcias de minha razão.

Caso o sonho,deveras,
Tenha sucedido,
Certamente foi no passado.
O qual revestiu-se
De um esplendor irreal.

-Oh morcego da discórdia!
Por que bateste tuas asas e,
Levaste para longe de meu lado
A parte mais bela e inocente de minha família?

Findou-se o meu idealizado sonho,
Escancarando-se as portas do reino do pesadelo.
Todos os seus demônios saíram,
Pondo um ponto final
Na perfeição do meu real.

A metade mais linda
Da minha família partiu,
Cedo demais para
Assimilar que o sonho acabou.

QUE VOLTES DEPRESSA

Meu lorde inglês
Onde estavas?
Por que repentinamente
Emergiste do branco.

Ulisses chegou
A nosso recanto sem ti.
Imediatamente inquietei-me :
-O que sucedeu com meu lorde?

Num ímpeto de desespero
Rompo noite adentro,
A esmiuçar a floresta densa.

Os urubus,as corujas
Cantam-me tua canção de partida.
Com os cabelos em desalinho
Mergulho em um pérfido enlouquecimento.

Desato-me a chorar,
Inconsolável perante tua partida.
Desiludida com a noite ,
Cuja escuridão separou-me de ti.

Não há mais lagrimas...
Não há mais cabelos...
O tempo foi tão tirano,
Condenando-me a penitencia eterna.

Eis que ,numa tempestuosa noite,
Tu reapareceste das sombras
Embainhando tua espada,
Arrebatando-me num abraço sufocante.

LUZES DA HISTÓRIA

Luzes da escuridão...
Contraditório ou não,
Busca-se o claro no escuro,
O cheio no vazio,
O principio no fim.

É a obscura angustia,
Que assim como a maré no rochedo,
Vai batendo,ferindo,desfalecendo
Um coração amedrontado
Que receia a consolidação da intuição.

Breve são o tempo e a convivência
Quando se abate o perigo,
Quando o inimigo
Tudo está mais frio,
Então, tudo é muito pouco...

Agora tudo o que foi vivido
Está no passado.
Momentos são memórias...
Clama-se para que o tempo retorne,
Para não chorar a saudade,
Para não defrontar com a realidade.

Tão mais vazio e triste.
É um dia de inverno
Em que os ventos balançam as folhas e,
Vem lhe buscar a porta.