Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando o guerreiro abandona a deusa

Meu altivo guerreiro,
Prepúcio de tempestade,
Fumaça da piteira das cortesãs.

Mais uma batalha vitoriosa!
Venceste a morte
No seio latente da vida.
Venceste o imprevisto,
As intempéries com o rasgar do véu
Por teu sabre,teu fuzil.

Na aurora deste novo dia,
Quizá será vencedor?

Na escola do tempo,
Nos saberes do mundo
Vitórias e derrotas são pontos de vista.
Mas fato é,
Que apenas vence os de coragem
Desprovidos da preguiça.

Meu jovem...meu amo,
És bravo,ousado...
Emanas a coragem.
Longe da perfeição,
Da idealização do vento,
Pecas pela preguiça.

Eis que desembainho uma flor
Matando-te a meus pés.
Rendido?
Jamais!
Cansado?
Sabe-se lá?

Quando fores general,
Quando houver caminhado
Pelos vales negros e pelas campinas floridas,
Compreenderás a dimensão além do rosa e gay.

Verás as sombras,
Que conhecestes por trás
Dos olhos de águia,
Cujas lágrimas verteram as cataratas
De um mundo mais sombrio,
Que sua vã filosofia suporta.

Desprenda-te desta figura miserável,
Desfigure esta máscara de horror
Que aprisiona teus belos olhos.
Reluza o diamante ,
Que um dia o garimpo do destino,
Pós nas mãos da deusa
Que o lapidou,
Que o enriqueceu,
Que o partiu,
Por mais que apenas uma lasca seja visível.

A deusa está deitada...
Num leito de morte?
Nupcial?
Vá vê-la!

Esqueceste que abriste
O livro proibido da vida e,
Que bebericaste dele junto dela?
Não podes fugir...
Não podes estar preso...
Então não a prenda,
Não a deixe esperando agonizante.

Sigas para o lago,
Traga da mais doce água para ela.
Meu guerreiro,
Você é o único...
Indubitavelmente e inesquecivelmente o único...

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