Vez que caminharás
E não descansarás;
Buscarás e não encontrarás
O que ao seio lhe palpita
Vez que hoje falam
As bocas que outrora eram mudas,
E mudas bocas cantarão
Um hino único,
Mítico e de silencio.
Vez que o silencio
É mais que palavras escusas,
É a voz que dança
E se faz ouvir
Pelos inaudíveis ouvidos.
Vez que a gloria, a vitória
Provém menos da força e da destreza
Do que da grandeza de alma e da astúcia.
Vez que é inútil,
Vil e vã a empreitada da mentira
Ao desmentir o obvio,
Que soergue a olhos visto,
E que resguardam a sua ocultação.
Vez que a verdade
É ingênua malicia
Aos olhos do lobo da mentira,
Uma vez que é a mais tênue
Manifestação de uma mentira
A qual foi desprovida de exercício.
Vez que a esperança
É a mais falsa das paixões humanas;
Edifica a ilusão
Que perverterá e perder-se-á
A vista límpida do mundo,
Vista agora sob a máscara da possibilidade do impossível.
Vez que a esperança
Não dignificará o homem,
Desonrará seu caráter,
Uma vez que o fará proferir e crer
Na mais ímpia das mentiras,
Tornando-o cego de própria vontade.
Vez que o amor
É nobre e digno por essência,
Não menos falso, desolador e torturador,
Uma vez que repudiado por outrem,
Toma a renuncia como arma de guerra.
Vez que o nada
É nada mais que tudo
Que se possa ver, tocar e sentir
Aprisionado na cama do vazio...