Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

PIZZA?NÃO!TATU

O mundo está pelo avesso?
Estarei eu pelo avesso,
Ou apenas caindo pelas tabelas?

Tudo foi sempre assim,
Mentiras,
Falsários nos altos postos de poder,
Roubos e mais mentiras?

Ninguém move uma palha,
Ou é impressão minha?
Porque eu não movo
A tal palha?

É conveniente a alienação,
A apatia,
O desinteresse pelos bolsos,
Malas e cuecas que circulam
Cheios do dinheiro,
Do meu dinheiro,
Do seu dinheiro?

Incrustam nos jovens
O crer na própria alienação.
Incrustam também
A indiferença.
-A corrupção existe desde que o mundo é mundo!
Chegou aqui com Cabral e,
Eu não posso fazer nada!

Então para tudo!
Isso aqui está girando depressa demais
E eu quero descer!

Não posso admitir!
Não posso ser enganado tão esdruxulamente,
Por tão péssimos atores!

Vamos!
Vamos todos reclamar nossos direitos!
Vamos executar as vozes,
Cujo silencio é conveniente!

Isso não é a revolução.
Não precisa ser.
Não sou louco,
Comunista ou anarquista.
Mas posso mover a mudança,
Sou livre para isso!

Todos calados?
Nenhuma reação,
Só os mesmos loucos de sempre?

-ovelhas de presépio!

Vou enfiar minha cara em um buraco
E dar uma de tatu.

DE ALGUM SONHO E MUITA VERDADE

Um dia eu encontrei um anjo.
Ele havia se perdido,
Havia perdido as asas e
Não sabia como voar.

O meu anjo
Havia deixado sua candura de lado.
Estava cansado da pureza
Do recanto celestial;
Queria ser homem
Como os homens do mundo,
Meio bruto, meio ogro.

Foi afastando-se
Do que julgava como bom em demasia.
Possuía um desejo de ser mal,
De tocar no mel(fel)da maldade.

E eu dizia:
-Você é essencialmente bom,não seja tolo!
E ele retrucava:
-Só você vê isso!

Seria eu cega,
Ou o mundo enxergava
O que meu anjo
Queria que vissem?


Muitos me julgaram
Como ingênua,
Insana,
Idiota por acreditar da beleza,
Na bondade de
Um anjo que julgavam néfilin.

Mas continuei a insistir,
A acreditar no meu anjo,
A ajudá-lo no que julgava ser importante.

Ele agora busca
Seu ponto atom.
Oxalá que o encontre,
E retome a plenitude do espírito
Que tantos buscam e
Apenas alcançam com a morte.