Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

terça-feira, 6 de abril de 2010

DO ORGULHO E SUAS AMARRAS

Um velho filósofo
Um dia escreveu:
“Eu fiz isso, diz minha memória.
Eu não posso ter feito isso, diz meu orgulho.”


Sinceramente nunca possui
Um coração dotado da compulsão do orgulho;
O que por vezes
Levou-me as mais profundas humilhações.

O orgulho nunca foi algo
Que eu julgasse como imprescindível à existência,
Poderia, simplesmente, passar sem ele.

Bem, um dia tu apareceste...
Não venho aqui com o intuito de te definir,
Pois por vezes já tentei fazê-lo, em vão.

Tu tinhas um orgulho supra-estimável;
Toda tua vida orbitava
Em função dos princípios rígidos em essência
Decorrentes deste orgulho ferrenho.

Também seria hipócrita ao mencionar
Que o mesmo se findou.
Seria belo demais para a realidade,
Mas não seria eufemismo
Se afirmasse que se abrandou.


Foste tu que me apresentaste o orgulho,
O valor do mesmo.
O certo não seria apresentar,
Mas ensinar a desenterrá-lo,
Nomeá-lo devidamente.

Estavas correto,
Descobrir um oculto orgulho
Ajudou-me na autopreservação.

Em contraponto
Tornei-me refém deste orgulho,
Uma vez que não suporto
Recordar alguns dos melhores momentos da minha,
E ter de rejeitá-los por ferirem meu orgulho.

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