Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

sábado, 5 de junho de 2010

CONFINS DENOMINADOS AMOR

Ela não é mulher
De meias palavras.
Não é daquelas que dão voltas
Para apenas chegar ao mesmo lugar.

Ela desde sempre foi a mais direta;
Indecisa em suas mil indecisões,
Perdida nas suas confusões,
Sem jamais deixar de saber o que quer.
(mas é possível que também não o saiba)

Sempre a meiguice e a ternura
Estampou-lhe a face,
Reproduzindo em seu sorriso
A energia apaixonante que a move.

De seus olhos irradia a luz,
Que a todos contagia,
Sem como e porquê.
Ela reluz por si só, e não há explicações.

Ele, também, nunca foi
O homem de deixar a vida
Dar-lhe adeus da janela do trem do destino,
Enquanto se encontrava prostrado em sua estação.

Mas era, por sua vez,
O rei das evasivas;
Aparentemente indeciso,
Enquanto suas decisões maquinalmente eram edificadas.

Senhor das máscaras,
Fantasias e personagens inúteis
Aos olhos de quem lhe percebe a essência;
Refúgio contra a exposição do coração.

Ora doce, ora completa amarguez ;
Com a espada que promovia prazer,
Dilacerava o coração,
Sem perceber sua própria laceração.

E as intempéries do destino,
Abraça e carrega vidas
Para confins desconhecidos,
Onde elas se perdem, riem e choram.
Tais confins figuram algo denominado amor.

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