Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PRA NÃO LEMBRAR

Fazia tempo, então.
A ferida estava fechada
E os olhos já não molhados.

Houve o tempo mais introspectivo,
Mais provedor de espírito e,
Mais reflexivo.

As lembranças de outrora vinham,
Mas voltavam como a onda no rochedo,
Sem nenhum abalo.

O coração já não batia tão forte,
As pernas já não se punham bambas e
Os pelo não se ouriçavam mediante o calor do arrepio.

-Seria isso, portanto, a realidade?
A frieza, ou talvez a apatia,
Haviam lhe abatido?

Perecia de saudade,
Mas nada que fosse tão maçante,
A ponto da lividez lacrimal.

O toque,
A carícia ingênua,
O afetuoso beijo no pescoço,
Seria o fuzilamento
De certezas e firmezas.

Então se treme,
Chora-se,
Lembra-se de fatos
Que ontem se julgavam
Como pertencentes ao reino do passado,
E que por lá haviam se enterrado.

-Por que ressuscitar, então?
Não digo reviver,
Pois, deveras, se configura como inviável,
Contudo, meramente recordar
Torna-se trucidante.

É de tamanha humilhação,
Que se torna preferível
Lutar para encobrir
O que jamais deverias ter descoberto.

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