Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 24 de janeiro de 2010

UMA HISTORIA DE AMOR INVENTADA

Ela e ele se aproximavam,
Iam construindo uma amizade
Acima de quaisquer suspeitas.
Uma amizade sólida e incondicional.

Era de um envolvimento tão grande,
Tão puro...tão inocente,
(isso é romantismo barato)
Para ser sincero, era bem verdadeiro.

Foi então que se começou a especular:
-Fulana, você está com sicrano?
As voltas para casa despertavam
A maledicência alheia,
Sempre introspectivos e mergulhados em suas conversas
Eram indiferentes aos demais.

Era setembro...
O céu estava nublado,
E eles sozinhos.
Falavam sobre trivialidades,
Enquanto, na verdade,
Sentiam um o calor do outro.

Decorreu-se o inesperado para eles,
Completa surpresa,
Mas o óbvio pra todos.

Era estranho,
Era intenso e enlouquecedor,
Até se tornar comprometedor.
Eles se deixaram comprometer,
Apesar de não haver um comprometimento total.

O comprometimento gerou desentendimento,
Gerou lagrimas e mais lagrimas
De um dos dois corações.
Eles se afastaram e nada mais falaram.
Ela teve ódio dele,
Recusou-se a falar-lhe,
Apesar disto ser como uma faca no peito.

Passado um bom período de tempo,
(e desconhecida a motivação)
Ele buscou fazer-se entender perante a ela,
Pediu perdão por qualquer coisa que poderia ter feito
(apesar do perdão ser difícil,e não encontrar o erro).

Reaproximaram-se, mas nunca foi igual,
Por vezes apenas uma palavra de bom dia
Era trocada durante todo o dia.

Ela o queria de volta,
Mas não era bem isso
O que ele desejava.
Ela, então, se tornou obsessiva.

Ele fraquejou
Concedendo-lhe um dos seus desejos,
O que gerou infinitas ilusões e esperanças no coração dela,
Para no dia seguinte ele matar a todas,
Com uma peculiar doçura
E um peculiar cuidado.

Era evidente que ali estava
Uma demonstração do amor dele,
Que ela nunca conseguiu observar.
(até então)

Ela se pôs a chorar infinitamente,
Despencou em uma depressão inconcebível,
Que ia matando-a paulatinamente,
Tirando-lhe as forças e a composição.

Repentina e aleatoriamente
Outra circunstancia comprometedora aparece,
Eles mergulham mais fundo,
Sem, no entanto, chegar ao substrato.
E vão repetindo esse comprometimento
Que era saciável sem ser satisfatório a ambos.

Ele então retoma o domínio de sua sanidade
E finaliza tudo.
Ruma seu caminho para outra vereda,
E seus caminhos se tornam cada vez mais paralelos.

Ela sofre mais que nunca.
-Convenhamos, ela já estava dramatizando demais,
Já estava fazendo uma tempestade em copo d’agua,
Colocando-se, involuntariamente, na figura de vitima.
Quanto mais sofria,
Mais obcecada e neurótica se tornava,
Afastando cada vez mais ele de seu lado.

E pela terceira vez os dois iam se comprometer.
Mas agora ela já estava mais forte,
Mais firme e segura de si,
(mas continuava neurótica e obcecada).

Ela foi ridícula,
Deu um show,
Pagou um temendo mico.
Ele já estava cansado
De todos os showzinhos dela,
De todos os seus dramas.

Então explodiu!
Falou tudo o que lhe irritava
E lhe causava desprezo,
(apesar de não estar satisfeito em desprezá-la)
Falou tudo o que ela precisava ouvir para acordar.

Ela ouviu tudo.
Tentou em vão replicar,
Mas seus argumentos eram inúteis,
Ela sabia que ele estava certo,
Mas não suportava dar o braço a torcer.
(ele também não)

O que ouviu
Doeu-lhe o coração como nunca,
Mas ela não derramou uma lagrima sequer.
Pelo contrario,
Ela passou a observar tudo de uma forma melhor,
Compreendeu todos os erros que havia cometido,
Que seus desejos de bondade
Refletiam nele como sendo egoístas e maus.

Ela, então, descobriu que o amava!
E o mais surpreendente para ela
Foi descobrir que ele também a amava,
Mas de uma maneira bastante diferente da dela.

Ela percebeu que
Para amar não é necessário possuir.
Poderia muito bem amá-lo como amigo,
Como outrora acontecia.

Por fim percebeu-se
Que com a amizade compreende-se
As coisas incompreensíveis ao amor.

2 comentários:

  1. Lindo!
    A última estrofe é absoluta. E é algo que só se compreende vivendo certas situações.
    Putz, arrasou, Ana! =D

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