Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O QUE GOSTAS?

Gosto das coisas que ninguém gosta.
Gosto de sentir o que ninguém gosta.
Gosto de pensar o que todos se negam.

Gosto dos contrários,
Dos opostos dos avessos.
Gosto do silencio dos gritos,
Do silencio que permanece após os gritos.

Gosto das tempestades,
Das fúrias pluviais,
Do vigor viril que as águas virtuosas
Possuem ao causarem a destruição,
Gosto dela também.

Gosto da solidão,
De seu brilho escurecido
Que só se aprecia na própria escuridão.
Gosto de falar sozinho,
Respirar e sentir a liberdade da solidão.

Mas a solidão sempre me traz
Como acompanhante e hóspede a tristeza.
Não é com pesar que digo isso,
Pelo contrario,
Gosto da tristeza.
Ela é sempre inspiradora;
Faz-me compreender o que sou perante
A tudo que vejo e estou.

Não gosto é das lágrimas,
Assim como os trovões nas tempestades.
Eles me despertam medo,
Um medo tão irracional,
Que os atraem cada vez mais para mim.

Mas gosto muito do medo,
Das sensações que ele provoca,
Do que ele desperta em meu organismo.
O medo é como um mel do prazer,
Uma forma de intensificar o prazer.

O medo pode me causar duvidas,
Tirar-me o sono,
Mas não se torna um empecilho
Na concretização dos desejos,
Os torna mais apetitosos.

Pois que venha o medo
De mãos dadas com o proibido,
Pois irei abocanhá-los,
Para deles tirar o sumo do prazer.

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