Pensar é um ato,
Apenas por pensar tomo posse da existência,
Descubro-me como sendo um ser pensante
E existente,
Sendo capaz de sentir e sentir-me,
Tornando-me um fato,
Algo verídico de carne e osso.
O mundo é a eminência!
Iminência de estar em determinada posição
Em determinado momento;
Iminência de encontrar o desconhecido
E esquecer completamente o conhecido;
Iminência de falar o que vem
Engasgado na garganta
E que vai-lhe sufocando o peito;
Iminência de simplesmente
Fazer acontecer.
Quem sabe vive
Mesmo não tendo consciência que sabe.
É a certeza de ser velho conhecido do desconhecido;
De caminhar de mão dadas com o perdido;
De compreender o inconcebível.
Da arte lhes revelo a vida,
Removo o véu que lhes cobre
Desde o dia do nascimento,
E que lhes cega.
Com palavras retiradas
Do mais profundo do seio niilista,
Venho-lhes contar
Que a vida é muito mais que o nada,
Apesar de este ser seu o cordão umbilical.
O Criador me abençoou com o dom da palavra,
É com ela que canto às artes da vida;
É com ela que grito
Os gritos que dilaceram o silêncio
Que por vezes se apossa,
Por faltar à voz;
Por faltar à coragem.
Peço-lhes perdão
Se ofendi o silêncio.
Pelo contrario,
O silêncio é a morada
Para onde todos nos dirigimos
Quando reclinados ao sono.
Todavia,
O sonho não é silêncio,
É a voz que fala através dele,
Dos seus anseios e medos,
Dos desejos mais profundos e reclusos.
O fato seria, portanto, um ato?
Em ato, se constrói o processo,
Seja este com argamassa,
Com pensamentos e palavras.
O próprio pensamento já faz ser,
Sendo, então, um fato culminado e mudo.
Mudo?
O fato precisa de registro,
Seja ele fotográfico ou ortográfico;
Não posso eu conceber um fato mudo,
Pois seria equivalente a escrever sem palavras,
A exercer a razão sem a própria.
Surpreendo-me devaneando
Acerca da realidade.
Seria ela uma sucessão
Efêmera, trágica e fatídica?
Bem percebo que é mera aparência,
Como uma máscara que recobre
A verdadeira identidade do artista.
Uma aparência que se desnuda
Com tamanha tragicidade,
Que questiona a própria questão
Do que vem a ser aparência.
Suponho que aparência
Seja mais que o parecer,
Seja o que se deseja ser visto,
O mostrar-se,
O aparecer.
Aparecer o que?
O que deveria ser revelado?
Algo como a essência?
Que diabos seria então a essência?
Suponho também
Que seja mais que o vir a ser,
Que não seja algo transmutável,
Mas algo uno e exclusivo,
Como o próprio ser.
Enfim, tudo culmina por ser
Uma questão de acreditar.
Acreditar que tal coisa é verdade,
Mas que também pode ser mentira;
Acreditar que tudo é possível,
Apesar de o impossível ser mais visível;
Ou apenas acreditar que acredita,
Simplesmente ter fé.
Bem se sabe que fé
É acreditar no invisível,
No pouco plausível e racional.
Para, além disso,
A fé é um não saber conformado;
É um saber irracional e involuntário,
Simplesmente há uma fagulha,
E sabe-se que tal fagulha sabe e isso basta.
Novamente o peso da realidade
Faz-se presente.
Existir algo real é tal ilógico
Quanto conceber a existência do irreal (surreal).
Para tanto,
Afloram as saudades do que outrora
Não foi sentido muito menos vivido;
Mas também, do futuro tenho saudade,
Do que nem ao menos conheci.
Será que conhecer confere existência a algo?
Ou melhor, o não conhecer esvazia a possibilidade da existência?
Então, a falta que sinto do desconhecido,
É meramente a falta de um nada.
A percepção do conhecer inerente a existir
É atemorizante,
Pois sou um mistério a mim mesmo,
Uma Caixa de Pandora,
Que não sabe que surpresas guardadas em seu interior.
Sempre julguei que existia,
Por acreditar ser o pensamento
O elemento que confere existência.
Se não me conheço,
Tanto como muitos,
Somos todos uma multidão
De seres que não são
Por não saberem quem são.
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