Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 3 de abril de 2011

Para a eterna Ice Queen

Há sujeitos que passam pelo palco da vida como uma brisa fria, que estremece a espinha mas é, rapidamente, esquecida com o calor do aconchego de quem se ama.Há ainda outros tantos sujeitos que passam como um furacão, não em termos de destruição, mas em termos de intensidade e abrasão.
Uma amizade pode ser um furacão ou uma brisa fria. Pode também ser um ferro em brasa, do tipo dos que marcam o gado para toda vida, ou um ferro de passar que promove leve queimadura.
O acaso não é muito crível, mas são inegáveis as sublimes e sutis transformações que ele promove. A brisa fria pode se tornar um furacão com as propícias condições atmosféricas. Uma queimadura a ferro de passar, se bem feita, pode deixar marcas por toda a vida.
Mas o que seria por toda a vida? A vida é efêmera como um suspiro e longa como uma interminável cãibra. A eternidade pode ser um instante. A brisa fria ou o furacão podem passar, mas dificilmente a sensação que eles causaram será completamente esquecida.
O carinho, o abraço, as palavras de afeto e apoio, os mais belos e também os mais tristes olhares de um amigo sobrevivem nos lugares em que muitas coisas como dinheiro, poder e vaidade não sobrevivem.
Pode ser que os amigos se separem. Nada mais natural. Faz parte do curso normal da vida. Os indivíduos na busca por si próprios deixam família e amigos, que dificilmente serão esquecidos, mesmo sem a constância da presença.
É até clichê dizer que no futuro os filhos destes indivíduos olharão para o baú de recordações de seus pais, e verão as lembranças daquele bando de sujeitos loucos. Aqueles sujeitos loucos eram, e porque não ainda são, os maiores amigos que um indivíduo pode ter. Estes sujeitos loucos gozando de sua liberdade foram fundamentais para o indivíduo de hoje.

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