Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

domingo, 8 de maio de 2011

Quem quer viver para sempre

Quem quer viver para sempre?

Ao ouvir Who wants to live forever, qual o indivíduo que não pondera o ato de viver para sempre? Alguns não possuirão a sensibilidade para tanto, no entanto, a eternidade é uma proposta tentadora, mas até quando?Cabe ressaltar, que é ridícula a perspectiva de eternidade retratada por alguns Best Sellers fajutos da literatura juvenil. A eternidade aqui retratada vai além, bem mais além.
A eternidade apresenta-se tentadora, quando livre das implicações religiosas, nas quais é necessário morrer, a fim de conquistar a eternidade em um corpo glorioso, e por aí vai. Todavia, a perspectiva de morrer para obter a eternidade, limita muito o conceito de eterno. Eterno remete a contínuo, algo que jamais será findo. A morte implica em uma pausa na trilha da eternidade, como se fosse um jogo de vídeo game, no qual há de se passar de fase. Isto promove uma cisão na linearidade da eternidade.
Entre os prós de viver para sempre reside, justamente, a ideia de não morrer, desfrutar ao máximo das situações que a vida apresenta. Observar as transformações que o mundo e a tecnologia promovem, a fim de que ocorra a evolução. Adquirir conhecimento advindo de diversas épocas, possibilitando a expansão dos horizontes intelectuais, eliminando erros banais a caminho da perfeição.
Há a possibilidade de congregar a eliminação dos erros a teoria do Eterno Retorno, de Nietzsche. O indivíduo retornaria a determinadas situações por vezes eternas. Contudo, seria impedido de proceder de maneira diferente em tais situações. Os erros seriam percebidos, porém não poderiam ser sanados. Qual seria, então, a lucratividade do Eterno Retorno?
O homem está, e sempre foi mal acostumado. Possui uma necessidade doentia de obter lucro de toda e qualquer situação. Não obstante, há situações que não apresentam lucro prático, o que, também, não as desvaloriza. A riqueza do Eterno Retorno não é prática. Há o engrandecimento do homem, através de sua razão, uma vez que limitação humana é algo que deve ser superada.
Infelizmente, pode-se dizer que a eternidade é triste, ainda mais quando acompanhada da solidão, com visto no filme Highlander. Com a eternidade, as possibilidades do novo, da capacidade de se surpreender são reduzidas. Tudo já foi visto, apesar do acompanhamento das transformações do mundo. O encanto pela vida vai sendo soterrado pelo tédio e pela monotonia.
Quando se é o único, ou um dos poucos imortais, como o Highlander, é tamanha a dor ao perceber que seu ente querido envelhece e morre, e o indivíduo nem ao menos tem a esperança de encontrá-lo na eternidade, uma vez que a eternidade se faz no presente e em momentos futuros, de maneira contínua.
Se viver é repelir compulsivamente aquilo que deseja morrer, o imortal apresente grande êxito. Contudo, pode-se alegar que o eterno é desprovido do desejo de morte? O que se pode dizer é que não há a preocupação com o fim, uma vez que este não existe.
Muitos afirmam que a vida, a história são cíclicas. Realmente o são? As situações não se repetem como no Eterno Retorno, entretanto, seguem um padrão, este sim é cíclico. A sucessão cíclica dos eventos, ainda mais a nível eterno, converge em um caráter de rotina destes, impingindo o tédio.
Uma vez que a vida decorre de acordo com um padrão cíclico, a eternidade é despojada da nostalgia do passado. A nostalgia advém do desejo de reviver o que não é possível de ser revivido. A eternidade não atua a fim de sanar a nostalgia, embora a amenize, já que o padrão do objeto nostálgico tenderá, certamente, a se repetir.
Antes a eternidade humana, àquela das religiões. A última apenas existe em função do medo da morte, que existe inata e involuntariamente no homem. O homem teme a morte em função de não saber se sua existência persistirá após esta. Deste medo nascem as crenças na eternidade religiosa, como um alento. Não obstante, tal eternidade jamais foi provada, visto que a comunicação entre o mortal terreno e o imortal pós morte nunca foi possível.
Quem quer viver para sempre? Eis uma pergunta de dificílima resposta. Definitivamente findaria o medo da morte, mas também a capacidade de se surpreender. A eternidade não pode ser para sempre, já que o para sempre, sempre acaba. Pode parecer redundante, no entanto, se os infinitos possuem tamanho diferente, a eternidade também se faz finda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário