Por Clarice Lispector

Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas!
Das idéias mais insanas
Dos pensamentos mais complexos
Dos sentimentos mais fortes.
Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz.
E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar
de um penhasco que eu vou dizer:
E daí?
Eu adoro voar!"

quinta-feira, 10 de março de 2011

Seremos, nós, os mesmos?

Seremos, pois, nós os mesmos?
É possível que após tantos ventos,
Tantos tormentos,
Ainda sejamos dois velhos e fracos seres,
Os quais o amor abandonou ao próprio desencanto?

Creio que somos, apenas,
Aqueles que não queríamos que fôssemos.
Somos migalhas de um passado,
Que passou, como de relance,
Por nossos olhos como estáticos espectadores.

Questiona-me, portanto,
Se não vivemos e fomos felizes.
É impossível negar a felicidade que partilhamos;
A beleza única de teus olhos, meus olhos, nossos sorrisos,
Mas o que dizer mais?

Dizer que se findou?
Que partiu como a lua amante,
Que ao amanhecer abandona e
Deixa vazio o leito antes partilhado?

Seria tão mais belo e poético,
Se dissesse que tudo isso não passou de um devaneio;
Que o fim não se abateu e,
Que hoje seríamos dois velhos e amantes.

Pena, que por mais que pareça,
A realidade não é tão bela e poética
Quanto os romances.

Pena, que deveras,
Houve um fim.
Fim este não quisto,
Mas acordado pelo destino,
Que maquina caminhos
Pelos quais é necessário passar,
Desviando do que outrora era comum objetivo.

Digo-lhe, pois, que não somos os mesmos.
Somos velhos, cansados pelas armações da vida;
Descrentes em meio a esperança,
Mas felizes em nossas ocultas infelicidades.

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